Logo O POVO+
Editorial: A caminho do impeachment
Opinião

Editorial: A caminho do impeachment

Edição Impressa
Tipo Notícia

O presidente da República, Jair Bolsonaro, está acossado por mais de duas dezenas de pedidos de impeachment, que continuam na gaveta do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Motivos não faltam para enquadrar Bolsonaro em crime de responsabilidade, em artigos do Código Penal, e até mesmo na Lei de Segurança Nacional.

Entretanto, além dos fatos objetivos, o impeachment exige um forte componente político, que se traduz na falta de apoio popular e na ausência de uma base parlamentar no Congresso Nacional por parte do governo. Mas Bolsonaro vem conseguindo equilibrar-se. Mesmo sem uma sólida base de apoio no Parlamento, ele não encontra muita resistência às suas propostas. Ao mesmo tempo consegue arregimentar um violento grupo de apoiadores virtuais, especializado em assassinar a reputação de quem ousa enfrentar o "mito".

Mas o pedido de demissão do ministro da Justiça, Sergio Moro, seguido de graves denúncias que ele fez contra Bolsonaro, introduziram um elemento novo e explosivo, com o poder de acionar a marcha de um processo de impeachment. Esse fato, que começou com a exoneração do diretor-geral da Polícia Federal, publicada no Diário oficial - contra a vontade de Moro -, foi avolumando-se durante o dia de ontem, transformando-se em uma avalanche que encurralou o presidente. Em um patético pronunciamento no final da tarde, ele apenas conseguiu balbuciar algumas justificativas desconexas.

Entrou também em cena o procurador-geral da República, Augusto Aras, pedindo ao Supremo Tribunal Federal (STF) a abertura de inquérito para investigar as declarações do ex-ministro. Segundo Aras, há uma série de possíveis crimes denunciados por Moro, que precisam ser investigados. Por sua vez, o ex-ministro estaria obrigado a comprovar as suas afirmações, sob pena de incorrer em denunciação caluniosa.

E Moro já começou a mostrar as provas de que dispõe, entregando ao Jornal Nacional (Rede Globo) uma comprometedora troca de mensagens via WhatsApp entre ele e o presidente. Bolsonaro manda a Moro o link de uma reportagem do portal "O Antagonista", revelando que a Polícia Federal estaria "na cola" de dez a 12 deputados bolsonaristas. Bolsonaro escreve: "Mais um motivo para a troca", referência à substituição do diretor-geral Maurício Valeixo. Moro responde dizendo que a investigação não fora pedida por Valeixo, mas que o inquérito era conduzido pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF.

Em outra mensagem, a deputada bolsonarista Carla Zambelli (PSL) insiste para que Moro aceite Alexandre Ramagem como diretor da PF, em troca da vaga de ministro do Supremo. Moro responde: "Não estou à venda". À noite, Bolsonaro nomearia Ramagem, amigo da família, como diretor da Polícia Federal.

O que resta dizer é o seguinte: se comprovadas as acusações que Moro faz, o caminho inapelável será remover Jair Bolsonaro da Presidência da República, por meio de um impeachment. 

 

O que você achou desse conteúdo?