A Ordem dos Ministros Evangélicos do Ceará (Ormece), dias atrás, lançou nota que exige do governador a reabertura dos templos religiosos. O argumento, que mescla elementos jurídicos e teologia bíblica, deixa nítido o que eles entendem por religiosidade: unicamente o cristianismo evangélico.
Longe de representar todos os evangélicos do Ceará, a Ormece pretende falar em nome de todas as igrejas. Finge, também, desconhecer a diversidade religiosa do Estado, que está igualmente submetida ao decreto de isolamento social e seus adeptos sentindo essa mesma ausência. Não é coerente, portanto, afirmar que os decretos são instrumentos de perseguição contra as igrejas evangélicas, como insiste a deputada estadual Silvana Oliveira.
É oportuno lembrar que medidas como essa estão sendo aplicadas no mundo inteiro. A "síndrome de perseguição" desses líderes, porém, os impede de perceber isso.
O Ceará está em um momento crítico da pandemia e o número de óbitos cresce a cada dia. Flexibilizar a abertura de milhares de templos, nesse momento, é expor inúmeras vidas a um risco que pode ser prevenido.
Tais circunstâncias nos faz questionar quais seriam os reais interesses nessa reabertura imediata. Um Estado laico não pode oferecer tratamento privilegiado a qualquer grupo religioso. O governo estadual, nesse contexto de excepcionalidade, fez o sopesamento e concluiu que é prioritário preservar vidas. As autoridades não devem, pois, ceder aos caprichos irresponsáveis dos que, no desespero para continuar arrecadando fundos financeiros, ignoram as recomendações de saúde pública dos especialistas.