São tempos estranhos. Palavras emboloradas, de aspecto fantasmagórico - como obscurantismo -, se sobrelevam de porões medievais para descrever, com precisão, cenas do cotidiano brasileiro.
O tecido social, tensionado, a se esgarçar, consolida diferenças que parecem irreconciliáveis. Teimosa que sou, nego-me a aceitar esta realidade como inexorável. Busco, incessantemente, indícios de que o projeto de uma sociedade livre, justa e solidária não se desvaneceu por esta Terra (que, insistimos, é redonda).
Nestes momentos em que é preciso reafirmar o óbvio, a mais acertada estratégia de sobrevivência para a esperança parece o retorno ao simples. Em que circunstâncias é possível ver a humanidade ainda remanescente nos humanos?
À espera de meu terceiro filho, nascido dias antes da chegada da pandemia ao Brasil, observei que grávidas são personas notáveis. Verdadeiras figuras públicas, eu diria. Com frequência, são felizes destinatárias de sorrisos anônimos, de gentilezas desinteressadas. Quando vem o plenilúnio gestacional, e a barriga se avoluma ostensivamente, recebemos bênçãos, desejos sinceros de saúde e de bem aventurança, inclusive de desconhecidos - e ninguém parece se interessar por saber em quem você votou!
Alguém pode contestar: às vezes, nem as próprias grávidas escapam, dizem as páginas policiais! E há tanta misoginia, violência obstétrica, feminicídio e outros devastadores problemas...
Mas sabe? Um instante! Drummond, não quero ser sempre gauche na vida! "Eles são muitos, mas não podem voar" - não é mesmo, Ednardo? Mais um dia, sonho com um mundo melhor! Por mim, por você que me lê, por nossos filhos e netos.
Em outras palavras, a capacidade de ser empático, de se colocar no lugar do outro, de estabelecer acenos e contatos amistosos existe! Como despertá-la? Sim, exigirá esforço.
Lembro-me de Ernst Bloch conclamando à construção de uma utopia concreta, da práxis do amanhã, que resultará em dignidade para todos. Inspiro-me em Gandhi, na não-violência como princípio de ação. O que é possível fazer que ainda não consideramos? Vamos juntos?!