Dany-Robert Dufour, autor de A cidade perversa: liberalismo e pornografia, nos fala dos dirigentes políticos que são verdadeiros pornógrafos. Inicia o livro afirmando que Sade não morreu. Ele ressuscitou e triunfa!
Donatien Alphonse François de Sade, o marquês de Sade, foi um aristocrata francês que viveu no século XVIII. Escritor conhecido por Os 120 Dias de Sodoma e tido como um homem voltado ao mal por natureza, utilizou-se da linguagem como forma de dar corpo ao seu projeto libertino ancorado na indiferença com o semelhante, reduzindo-o à sua condição real de abjeto.
Enquanto homem público, as falas e posturas do chefe da nação, assim como de todos aqueles cúmplices e parceiros que aplaudem orgasticamente suas obscenidades, escandalizam o mundo. Por aqui, há alguns dias, um recorte igualmente obsceno circulou nas redes sociais. Um genitor não desejava ver seu rebento assistindo aula junto aos demais alunos do mesmo colégio pelo fato destes residirem em outro bairro (outro nível - sic).
Escutar a convocação para um churrasco e, no dia seguinte, assistir ao passeio de jet-ski enquanto o País acumulava mais de dez mil mortos pela Covid foi um estupro. Um estupro auditivo e visual, respectivamente. A selvageria do real da pulsão de morte. Ele fala e goza, indiferente ao outro. Não há no inquilino do planalto qualquer ideologia (assim como em Sade). O que há é um único mandamento: gozar sem entrave. Uma desmesura do prazer em assistir a dor do outro. E daí? Em Sade isso traduz-se como a prática da expressão hiperbólica da dor.
Trata-se de um representante da perversidade comum que tem como marca a crueldade. A diferença com relação a Sade é que o francês praticava (escrevia) suas sevícias em Silling (um castelo), enquanto aqui, as obscenidades são exaladas na esfera pública, diariamente. Não há isolamento nem máscara que nos proteja contra essa peste. Assim como não há álcool em gel nem água sanitária que desinfete esse miasma! Resta-nos a arte, a poesia e a música como refúgios diante de tanto horror.