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Catarina Rochamonte: O coronavírus na Bolsolulândia
Opinião

Catarina Rochamonte: O coronavírus na Bolsolulândia

Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Catarina Rochamonte 
Doutora em Filosofia e vice-presidente do Instituto Liberal do Nordeste 
 (Foto: Acervo pessoal)
Foto: Acervo pessoal Catarina Rochamonte Doutora em Filosofia e vice-presidente do Instituto Liberal do Nordeste

Em live recente, Bolsonaro afirmou, com seu peculiar tom de deboche, que "quem é de direita toma cloroquina; quem é de esquerda toma tubaína". Lembrei-me, então, de uma passagem do clássico de Cervantes, Dom Quixote, que diz: "O rir-se sem causa grave denota sandice, mas não digo isso para que vos estomagueis, pois meu desejo outro não é senão servir-vos".

Diferentemente do sorriso que congrega, harmoniza e descontrai, o riso de deboche, principalmente em momentos trágicos como o que estamos vivendo, tem algo de perverso, além de ofensivo e desagregador. Antes, já me havia chamado atenção o riso do bolsonarista que se seguiu à resposta deselegante e afrontosa do presidente a uma jornalista que dava conta de já termos ultrapassado o número de mortes da China. "E daí!? Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre". O riso de quem aprovava enquanto filmava a boçalidade do presidente reflete a estranha moral dos "valentes" ideológicos que são, quase diariamente, alimentados pelas sandices de quem achou por bem governar e falar apenas para seu eleitorado e, dentre eles, os mais radicais.

Impressiona a semelhança entre as atitudes do atual presidente e de seu séquito com as do ex-presidente Lula e de seus apoiadores. Tenho dito nas minhas redes sociais - onde tive o "privilégio" de ser agredida tanto por fanáticos da esquerda quanto por fanáticos de direita - que bolsonaristas e lulistas são irmãos siameses que se odeiam. A cada dia novos elementos corroboram essa tese. Dentre os vários pontos que têm em comum podemos citar a propensão a estigmatizar pessoas e grupos, desrespeitar indivíduos, tentar calar o dissenso, justificar atos imorais e ilícitos, atacar a imprensa, etc. No momento, ambos politizam a pandemia.

Lula voltou aos holofotes ao se congratular com o coronavírus quando este batia o recorde de mais de mil vidas ceifadas por dia no Brasil: "Ainda bem que a natureza, contra a vontade da humanidade, criou esse monstro chamado coronavírus. Porque esse monstro está permitindo que os cegos comecem a enxergar que apenas o Estado é capaz de dar a solução".

A hora é de superar a política partidária mesquinha. Mas enquanto o Brasil se torna uma das principais vítimas da pandemia no mundo, a direita boçal pergunta: "E daí!?". E a esquerda hipócrita exclama: "Ainda bem!".

 

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