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Regina Ribeiro: Entre nós, mulheres
Opinião

Regina Ribeiro: Entre nós, mulheres

Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Regina Ribeiro
Jornalista do O POVO
 (Foto: Iana Soares/O POVO)
Foto: Iana Soares/O POVO Regina Ribeiro Jornalista do O POVO

Desde que o isolamento social começou no Brasil, penso na situação das mulheres. Mesmo mulheres que, como eu, tem filhos jovens adultos e que de uma hora para outra está em casa lidando com o trabalho, mas também com todas as demandas que incluem desde a higienização das sacolas que chegam do supermercado e outras encomendas, passando pelo cardápio diário, pela feitura dos alimentos, pela limpeza da casa, pela distribuição das tarefas com marido, filhos e pelo estresse profundo que tudo isso tem o poder de causar.

Tenho pensado em tantas mulheres com crianças pequenas que, agora, não contam com a escola. Estou próxima de uma professora de educação infantil do município. Após às 20h é que muitas mulheres estão com os filhos de três anos realizando tarefas, produzindo vídeos e enviando, após trabalharem o dia inteiro em restaurantes. Outras, precisam esperar o companheiro chegar com o celular. Do outro lado estão as professoras que, de repente, se transformaram em educadoras a distância de crianças do ensino infantil. A ansiedade é o mal-estar que mais atinge hoje, especialmente, as professoras, segundo pesquisa divulgada no fim de semana pelo Instituto Península, publicada no jornal O Estado de S. Paulo.

Infelizmente, essa realidade não é apenas nossa. Domingo passado, o jornal francês Le Monde publicou o artigo de Jocelyne Mebtoul, que preside a coordenação em defesa das mulheres europeias, no qual denuncia que, embora as mulheres estejam na linha de frente no enfrentamento do coronavírus, executando tarefas essenciais para a preservação da vida, não são ouvidas nem valorizadas nas discussões em torno de soluções para a crise da Covid-19 e a pós-pandemia. "As mulheres", afirma Mebtou, "pagam o maior preço por isso".

Esta semana foi lançando, em e-book, o livro Construindo Movimentos. Uma Conversa em Tempos de Pandemia (Boitempo), com a participação das escritoras e ativistas Angela Davis e Naomi Klein que amplia ainda mais a visão sobre como o isolamento escancara as desigualdades entre as populações negras, pobres e as mulheres, mesmo em países como os Estados Unidos. Se falamos de mulher, falamos da infância, da saúde, do crescimento econômico, do desenvolvimento social. Tudo isso passa por nós, as mulheres.

Dedico esse artigo à Cilda Santos, secretária da CCL, morta ontem pela Covid-19. 

 

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