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Leandro Vasques: Coronavírus e o mito da caverna
Opinião

Leandro Vasques: Coronavírus e o mito da caverna

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Leandro Vasques, advogado criminal, mestre em Direito pela UFPE, doutorando em Criminologia pela Universidade do Porto, Portugal, e secretário-geral da Academia Cearense de Direito (Foto: Acervo pessoal)
Foto: Acervo pessoal Leandro Vasques, advogado criminal, mestre em Direito pela UFPE, doutorando em Criminologia pela Universidade do Porto, Portugal, e secretário-geral da Academia Cearense de Direito

Muitas analogias e reflexões já foram feitas nesses sombrios tempos de pandemia, assim como já se fizeram inúmeras abordagens e interpretações ao "mito da caverna", de Platão. Resumidamente, o enredo da alegoria trata de indivíduos presos durante toda a vida no fundo de uma caverna, de onde só podem vislumbrar sombras de objetos manipulados por pessoas na parte exterior. Em certo momento, um prisioneiro consegue se libertar, sai da caverna e passa a enxergar as coisas palpáveis e reais do mundo, das quais as sombras eram cópias imperfeitas e limitadas.

De acordo com estudiosos, o mito da caverna deve ser visto primordialmente no contexto da obra A República, de Platão, mas nada impede que possamos traçar um paralelo com o momento presente.

Antes da pandemia e da quarentena, muitos de nós certamente vivíamos numa espécie de caverna, acorrentados a uma rotina irrefletida e enxergando apenas as sombras de um mundo além dela. Excessivamente focados no trabalho, quase reféns de um tempo que parece passar cada vez mais rápido, sequer paramos para pensar sobre como aquilo que buscamos construir, no fim das contas, pode fugir totalmente ao nosso controle.

Agora, forçados ao distanciamento social e voltados ao seio da família (aqueles que têm o privilégio de poder permanecer em casa), somos praticamente obrigados a refletir sobre os valores que realmente importam, como a solidariedade essencial para o enfrentamento das múltiplas crises que surgem, especialmente em favor daqueles que lamentavelmente se veem ainda mais vulneráveis.

Como o prisioneiro do mito que se liberta dos grilhões deve retornar à caverna, para que lá, ciente da insuficiência do seu conhecimento sobre o mundo, aprenda a lidar com as sombras, devemos voltar às nossas rotinas, finda essa tempestade, valorizando o que é essencial na vida.

Assim, como dito no filme O vendedor de sonhos, baseado no livro de Augusto Cury, podemos passar a considerar, nessa transição entre a caverna e o mundo real, que "o segredo do sucesso é conquistar aquilo que o dinheiro não pode comprar". 

 

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