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Regina Ribeiro: Contra o ódio e ponto-final
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Regina Ribeiro é jornalista e leitora voraz de notícias e de livros. Já foi editora de Economia e de Cultura do O POVO. Atualmente é editora da Edições Demócrito Rocha

Regina Ribeiro: Contra o ódio e ponto-final

Tipo Opinião
Regina Ribeiro
Jornalista do O POVO
 (Foto: Iana Soares/O POVO)
Foto: Iana Soares/O POVO Regina Ribeiro Jornalista do O POVO

Esta semana dois novos livros publicados em e-book nos ajudam a refletir sobre o momento que estamos vivendo e que, às vezes, torna-se tão incompreensível. Contra o ódio, da jornalista alemã Carolin Emcke é a primeira dessas obras. Trata-se de um texto potente que nos faz pensar sobre e em qual medida alimentamos o ódio que estamos vendo brotar de forma inexplicável.

Longe de falar sobre o ódio como se ele não fosse um velho companheiro do ser humano, Carolin aborda esse sentimento como um ingrediente ressignificado na atual conjuntura política com pitadas do ódio já destilado no passado e ingredientes bem contemporâneos. O ponto central da discussão que a jornalista promove na sua reflexão tem início quando ela delineia os contornos desse ódio e como a falta de compreensão da matéria constitutiva deste ilude muitos de nós, e nos faz revidar com a mesma substância destrutiva.

O ódio não suporta perguntas, não tem nenhuma dúvida. Não tem rosto nem corpo definidos. O ódio torna seus objetos "meros coletivos vagos" que merecem toda sorte de xingamentos e difamação. Contra esses objetos não reconhecidos como um ser igual tudo é possível, desde os maus-tratos até o "desejo de erradicação". Talvez esteja na sua memória a fala de Sérgio Camargo, ao chamar o movimento negro de "escória maldita". O ódio normalizado não apenas grita impropérios, ele pode agir sutilmente ao deixar um menino negro de cinco anos, amedrontado, sozinho num elevador.

A outra obra que merece ser lida é a do filósofo Marcos Nobre, Ponto-final: A guerra de Bolsonaro contra a democracia. Nobre tem se tornando um dos principais pensadores sobre o governo Bolsonaro. Desde 2018, ele alerta sobre o projeto autoritário do presidente enquanto muitos intelectuais esbravejam a "burrice" e a "loucura" do mandatário.

Em Ponto-final - uma alusão à própria fala de Bolsonaro -, Nobre mostra como, aos poucos, o presidente tem sido capaz de calar e desarticular o pensamento de tantas pessoas que, aturdidas, não param para pensar que a aparente loucura de Bolsonaro quer, segundo Nobre, aniquilar as instituições (ou sistema) que sustentam a democracia e impor um governo autoritário no País. Por isso, o caos e a disseminação do ódio são tão propícios ao seu projeto. Ao invés de governar, JB quer apenas dizer: Eu mando, ponto-final. 

 

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