Logo O POVO+
André Haguette: O socialismo do PT
Opinião

André Haguette: O socialismo do PT

Edição Impressa
Tipo Notícia Por
André Haguette, sociólogo. Foto: Mauri Melo, em 23/09/2011 (Foto: O POVO)
Foto: O POVO André Haguette, sociólogo. Foto: Mauri Melo, em 23/09/2011

A confluência das redes sociais e do advento de Bolsonaro na Presidência vem propiciando um novo tipo de violência, a violência da palavra, como a chamou o historiador Leandro Karnal. Mesmo vivendo num País violento, conseguíamos manifestar civilidade no trato verbal. Não mais desde que a opinião passou a prevalecer sobre o conhecimento, a crença sobre o argumento. As pessoas se acham no direito de opinar sobre qualquer coisa, criando uma era de irracionalidade, de "crença na crença" como verdade final. Confundem opinião com saber o que incapacita ao diálogo e leva ao ódio do outro, ignorando que a liberdade de expressão encontra seu limite na verdade, pelo conhecimento, na democracia, pela Constituição, na ética, pelas virtudes cívicas. Difícil imaginar uma sociedade minimamente funcional entregue à falsidade, ao crime e ao vício civil.

Ao sociólogo choca ouvir pessoas difamarem o socialismo sem ter a mínima ideia do que realmente seja. Falam por ouvir dizer chegando a pensar que sabem. Ignoram tudo do socialismo e fantasiam-no de monstro, acusando-o de comunismo stalinista corrupto e de outras "ignorâncias" para, na realidade, atingir e desacreditar o PT, definido como inimigo político-eleitoral. Mas, além das fábulas e difamações, o que vem a ser a doutrina socialista do PT?

O PT jamais foi comunista e rejeita até o modelo social-democrata. José Dirceu, nas suas Memórias, assim se expressa: "... a aliança entre sindicalistas, católicos e marxistas buscava criar um partido a partir das necessidade históricas daquele momento (os anos de 1960) e da experiência histórica dos socialistas no Brasil e no mundo, nem social-democracia nem comunismo stalinista, o modelo soviético, nem a social-democracia europeia ou o eurocomunismo". Vê-se aqui Dirceu preocupado em dissociar o "socialismo petista" de todas os movimentos da época. O PT sempre se faz de diferente. "Ousávamos e trabalhamos para construir um partido socialista, reformista, revolucionário de novo tipo para a época, plural, democrático, de base, de luta social e institucional, um partido de massas ... um partido para governar, chegar ao poder, para democratizar não só a política e as instituições, mas a economia e o social, a área cultural, para distribuir a renda e a riqueza, não só o poder política então ditatorial".

O partido ambicionava não ser um partido de vanguarda nem de classe, mas de massa, aberto a todos, plural nas suas concepções, democrático, visando a distribuição da renda e da riqueza, aceitando a propriedade privada dos meios de produção e do mercado regulados na consecução da liberdade e da igualdade. Que cada um julgue em que medida o partido alcançou seus objetivos. Mas eu destaco que o partido andava no caminho certo, de um socialismo que não entendo como diferente do modelo social-democrático europeu, especificamente dos países escandinavos, às vezes chamados de "capitalismo nórdico". Creio que a pandemia e os protestos "I can´t breath" apontam para a superação de nosso capitalismo oligopolista concentrador por uma modelo social de solidariedade socialista. Esse caminho teremos que trilhá-lo, com ou sem o PT. 

 

O que você achou desse conteúdo?