Logo O POVO+
Antonio Baptista Gonçalves: Covid-19 desafia desigualdade no Brasil
Opinião

Antonio Baptista Gonçalves: Covid-19 desafia desigualdade no Brasil

Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Antonio Baptista Gonçalves
Advogado, pós-doutor, doutor e mestre 
 (Foto: Acervo pessoal)
Foto: Acervo pessoal Antonio Baptista Gonçalves Advogado, pós-doutor, doutor e mestre

A desigualdade econômica no Brasil é uma realidade. Segundo o censo demográfico do IBGE de 2010 existiam 6.329 favelas em 323 municípios. 31 milhões de pessoas não tem acesso a uma rede geral de distribuição de água e para 11,5 milhões de brasileiros a superlotação com três pessoas por dormitório é uma realidade.

A Covid-19 desvela a realidade de abandono do Estado. Se exige o isolamento social da população, mas, ao mesmo tempo, o que impulsiona o setor de serviços vem das comunidades carentes. Um paradoxo, pois, as regiões que deveriam ser mais protegidas são as mais expostas. A desigualdade obriga as pessoas a irem trabalhar para terem comida e sustento. O vírus não perdoa a desigualdade social.

Não há testes em massa, não há prevenção, não há higienização correta, não há proteção estatal e há proliferação do contágio com clara subnotificação. Ao mesmo tempo, se impõe o fechamento de estabelecimentos e resulta que a população perca seus empregos e salários pela proteção de todos. Mais de 1,2 milhão de trabalhadores, a maioria informais, ficaram desempregados no primeiro trimestre de 2020. A ajuda de R$600,00 do governo não será suficiente. Enquanto isso, os mais ricos cortam custos, deixam de pagar impostos, renegociam seus contratos e aproveitam as oportunidades de investimento para aumentar sua riqueza. O acirramento de ânimos é evidente.

Se os mais pobres se recusarem a trabalhar como ficará a economia brasileira? Será por isso que o presidente da República tanto insiste para a reabertura econômica, mesmo ciente de que não há condições sanitárias para tanto?

A nona economia mundial se mostra incapaz de achatar a curva da disparidade econômica e a realidade é que o vírus mostra que o Brasil não tem um plano para a desigualdade econômica e social. Não se investe na educação corretamente, não se forma um sistema de saúde pública eficaz, mesmo sendo o maior do mundo e a insegurança é visível. Que não precise ocorrer uma revolta social, como em 2013, para fazer o Estado investir nas futuras gerações lhes fornecendo, de verdade, educação, cultura e cidadania. 

 

O que você achou desse conteúdo?