Um dos clássicos do expressionismo alemão que despontou no contexto da República de Weimar como um movimento de crítica social diante das incertezas, dos dualismos, do cenário sombrio e do caos sociopolítico da Alemanha, lócus onde o nazismo encontrou solo fértil para suas atrocidades, O gabinete do Dr. Caligari completa um século.
Com todas as deformações, os excessos, os cenários desconfigurados, o trágico e o patético, esse filme reúne, no roteiro original escrito por Hans Janowitz e Carl Meyer, a percepção do que há para além das aparências, metaforizando a manipulação das pessoas e a disseminação do ódio.
Não vou aqui tecer articulações e estabelecer paralelos com outro gabinete que opera em pleno Eixo Monumental de Brasília, considerado pela Unesco Patrimônio da Humanidade. Mas, saber que a arquitetura de sonho, escultural e modernista do genial Oscar Niemayer serve de morada para a deformação e desconstrução dos valores democráticos, das violações das liberdades, do mal radical e do mal banal, é repugnante, é repulsivo.
Sou mais uma entre os setenta por cento em defesa da democracia, da vida, do respeito às diferenças, contra o fascismo, o nazismo, o racismo, o feminicídio, a homofobia, sonhando e lutando pela construção de novos projetos civilizatórios, por um mundo menos desigual, convocando a quem quiser vir junto fincar nossas forças no conhecimento, na ciência, na arte. Sabemos não ser tarefa fácil. Mas sabemos também que obstáculos débeis nos empobrecem. Como disse Mauro Iasi "somos uma intrusão incômoda. Precisamos passar ao ato político, instaurador e emancipatório".
Nesse Gabinete de Eros, certamente Niemayer estaria conosco, fazendo germinar com seu traço sinuoso, subversivo e revolucionário esse jardim dos sonhos, esse ideal ético e estético, fundado na resistência e na luta por um mundo mais justo. A maravilhosa Clarice Lispector, também centenária, seria mais uma nesse gabinete, nos encantando com a política revolucionária de seus escritos.
#70%pelavidaepelademocraciacontraofascismosempre!