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Gabriella Bezerra: Quem tem medo do "Centrão"?
Opinião

Gabriella Bezerra: Quem tem medo do "Centrão"?

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Gabriella Bezerra, professora da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e pesquisadora do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem) (Foto: Acervo pessoal)
Foto: Acervo pessoal Gabriella Bezerra, professora da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e pesquisadora do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem)

No dia 25 de junho, o bloco suprapartidário conhecido como "Centrão" conseguiu, ao que tudo indica, emplacar uma vitória contra os olavistas na indicação do novo ministro da Educação. Primeiro, gostaria de justificar essa denominação. "Centrão" pode ser entendido como um método de atuação política. Não se refere a siglas partidárias, nem pessoas específicas e não deve ser confundido com o centro ideológico, algo que ficaria no meio da escala direita-esquerda. Aliás, se caracteriza por não possuir uma clara bandeira ideológica e se considera uma força moderadora, que permite o equilíbrio nas negociações entre os Poderes Executivo e Legislativo. Sua principal motivação, em geral, é a ocupação de cargos que podem render publicidade e obras nos seus respectivos redutos eleitorais. O termo foi utilizado pela primeira vez na Constituinte, fazendo referência a uma articulação pontual e conjuntural de parlamentares de distintos partidos, sem uma formalização de bancada. O atual "Centrão" é uma estratégia que se articula com enorme força a partir de 2014, tendo sido fundamental no processo de impeachment de Dilma Rousseff e na sustentação do presidente Temer.

Apesar de Bolsonaro ter sido eleito com uma forte pauta antissistema, embalada pela Operação Lava Jato e seu discurso de moralização da política, que parece recusar este tipo de estratégia de negociação, o "Centrão" renasce e permanece vivo na indicação para cargos no atual governo. Isso se deve a fatores concatenados que o transforma em valioso aliado: 1) consegue um maior reconhecimento e uma aproximação com a Presidência da República, quando esta se encontra em dificuldades e deseja sobreviver. Ou seja, se destaca em momentos de crises políticas; 2) E a sua natureza camaleônica permite a aprovação de medidas polêmicas e impopulares, sem constrangimento com fidelidades partidárias, transitando em variados cenários políticos. Quem tem medo do "Centrão" tem medo de uma dinâmica inerente a competição? Afinal, cada um combate com as armas que tem. 

 

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