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Gal Kury: Licença para ser imoral
Opinião

Gal Kury: Licença para ser imoral

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Gal Kury, consultora de marketing e professora universitária (Foto: Acervo pessoal)
Foto: Acervo pessoal Gal Kury, consultora de marketing e professora universitária

Semana passada assistimos incrédulos o fenômeno #exposedfortaleza, que escancarou a sordidez de conversas entre rapazes adolescentes através do WhatsApp, apontando diversos tipos de assédio contra meninas, adolescentes e repletas de áudios, vídeos e fotografias. Muitas delas eram colegas de sala ou ex-namoradas. E o horror continuou em seguida com relatos assustadores de assédio por parte de vários professores, exibidos pelas vítimas nas redes sociais em prints e áudios.

Trending Topics no Twitter, o movimento ganhou visibilidade chegando a meios de comunicação com ampla audiência, incluindo redes sociais. Além, é claro, de dominar as conversas de grupos de mães por WhatsApp e, naturalmente, entre os alunos. Medidas mínimas foram tomadas, como o afastamento de professores, e investigações policiais já que existe material associado à pedofilia.

Vários pontos chamaram a atenção, a começar pela soberba de alguns pais que se acham no direito de cobrar que, valores morais básicos e o reforço da ética dentro de casa, sejam transferidos para a escola. Depois cabe a reflexão de que, os colégios voltados para a elite econômica, e por muitos, tidos como locais que podem fornecer educação de alto nível: até que ponto são capazes de influenciar na formação moral dos seus alunos, e até que ponto exatamente lhes cabe esse compromisso? A esfera mais frágil e cruel, sem dúvidas, é a imputação da culpa nas meninas. "Quem mandou enviar nudes?", ou as "meninas de hoje não se dão ao respeito". A anuência de muitos pais também é digna de nota com o "isso é coisa de menino...".

É chocante ver adolescentes imberbes agindo como gangues virtuais protegidas por uma bolha imaginaria na qual tudo é permitido. Ao ouvir as vozes dos rapazes, ainda em transformação, - que por hora ganham o timbre de criança e por outra o gutural dos adultos - proferindo todos os tipos de ataques vis às meninas, fico a pensar tristemente que os prints e áudios permanecerão indeléveis no coração e mentes das vítimas de abuso e assédio. E nós, o que faremos a respeito? Calamos ou educamos? 

 

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