Em 6 de dezembro de 1791, aos 35 anos, na cidade de Viena, Áustria, faleceu precocemente Wolfang Amadeus Mozart. Apesar das dívidas acumuladas, o artista tinha consciência de que sua música o levaria a ser conhecido pela posteridade, contudo, a fama póstuma significava pouco, enquanto a fama em vida, tudo. Colecionador de relações desleais, perdeu o propósito de viver, por não ter alcançado valiosos desejos: o amor leal e sincero de uma mulher e a admiração do público vienense por sua música. Norbert Elias, no livro Mozart: Sociologia de um Gênio, afirma que o sentimento de frustração do músico era a sua tragédia - e a nossa - enquanto seres humanos.

A pandemia da Covid-19 impactou as relações sociais, de modo que sentimentos como os de Mozart parecem ter sido potencializados. A solidão se faz presente nos lares, nos hospitais e nos corações. A falta de certezas, em relação ao amanhã, põe em xeque a sensação de ausência de significado na vida vivenciada pelo compositor. Sobretudo, porque nossa geração, imersa pela intensidade do universo digital, já estava permeada por doenças associadas à psique humana, vez que o termômetro do sucesso, ao ser medido pelo número de interações em rede social, implica no prejudicial sentimento de obsolescência programada.

Enquanto Mozart foi afetado pelo não reconhecimento de seus dons em vida, a sociedade contemporânea reage à solidão a partir da busca de cada vez mais seguidores fiéis capazes de lhe garantir a consagração universal e massiva.

Todavia, em meio ao caos, exsurge o conceito de "novo normal", desenvolvido por Mohamed El-Erian, que acredita em uma nova chance da humanidade para defender a vida, realinhando os sentimentos humanos por meio da utilização das ferramentas digitais. Para que essa visão positiva se concretize, precisa-se de uma lente auspiciosa e inovadora, capaz de reavivar o sentido perdido por Mozart e resgatar laços de humanidade.