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Daniel Maia: O "novo normal" e a velha humanidade
Opinião

Daniel Maia: O "novo normal" e a velha humanidade

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Daniel Maia
Advogado, doutor em Direito e professor da UFC
 (Foto: Acervo pessoal)
Foto: Acervo pessoal Daniel Maia Advogado, doutor em Direito e professor da UFC

Com o fim da pandemia o mundo e as pessoas serão melhores? A resposta, fria, porém lúcida, é: o mundo será melhor, já as pessoas não!

O mundo melhorou, pois foi forçado a evoluir com a efetiva implementação de avanços tecnológicos, os quais já estavam disponíveis, mas eram pouco utilizados, em diversas áreas do conhecimento e do nosso dia a dia. Serviços e trabalhos passaram a serem feitos remotamente, barateando a operação de diversos negócios e impulsionando a inclusão digital no País. Assim, nesse aspecto, sem dúvida o mundo melhorou. Também melhorou, por estar com hospitais um pouco mais equipados e sociedades mais conscientes da necessidade de terem hábitos mais saudáveis e higiênicos.

Entretanto, é utopia crer que pelo fato de se ter visto diversos atos de solidariedade no mundo, as pessoas serão, de agora em diante, mais humanas, solidárias e melhores, pois não o serão.

As pessoas são como são e não mudarão a sua natureza em face do sofrimento que a pandemia causou. As almas caridosas continuarão caridosas; as egoístas continuarão assim; as boas criaturas permanecerão boas e os seres perversos não ganharão asas e se tornarão anjos. Aristóteles já dizia: "As pessoas são como paredes, podem até mudar os azulejos, mas os tijolos serão sempre os mesmos". O filósofo queria dizer que em determinadas circunstâncias as pessoas podem até aparentar superficiais mudanças, mas a sua essência será sempre a mesma.

Vejamos, por exemplo, que se de um lado testemunhamos uma onda de solidariedade formada desde anônimos e artistas, que com suas lucrativas e polêmicas lives foram responsáveis por arrecadações vultuosas de alimentos; e também por diversas empresas que doaram altos valores e muitos produtos para comunidades, hospitais e até mesmo centros de pesquisa; de outro lado se viu os mais nojentos escândalos de corrupção na compra de respiradores, EPIs, hospitais de campanha e remédios, sem contar as milhares de fraudes nos pedidos de benefícios de renda mínima do Governo Federal.

O "novo normal" não será capaz de transformar a velha natureza humana. 

 

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