Logo O POVO+
Fernando Costa: Não existem inocentes no Leblon
Opinião

Fernando Costa: Não existem inocentes no Leblon

Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Fernando Costa, sociólogo e publicitário (Foto: Acervo pessoal)
Foto: Acervo pessoal Fernando Costa, sociólogo e publicitário

Nas atuais democracias, nenhum governante se mantém de pé sobre uma montanha de mais de sessenta mil mortos, muito menos tendo pela frente um exército de mais de doze milhões de desempregados. Junte a este cenário um governo que não consegue manter, por escândalo ou incompetência, ministros nas pastas da Saúde e da Educação e um chefe de Estado que incentiva o genocídio através de práticas negacionista, como o não uso de máscaras, em plena pandemia. Bolsonaro não é louco, não é incompetente, não é inapto, muito menos inepto, ele é um projeto de desconstrução de uma sociedade democrática. Ele é o resultado de um experimento de manipulação das vontades das massas através de informações captadas nas redes sociais. A manipulação desses dados resultou numa escalada da extrema direita, trazendo a reboque uma onda de combate a ciência, tendo à frente os terraplanistas, os que creem que as vacinas não surtem efeito e que a Covid-19 é só uma gripezinha. Agora, imagine você receber a notícia que 850 aviões, com a mesmo número de passageiros do voo do time da Chapecoense caíram no Brasil, provocando a morte de mais de 60 mil pessoas, esse é mais ou menos o tamanho da nossa tragédia.

Mas, no lugar da comoção, o que você vê é uma horda no meio da rua sem máscaras, porque o mito que eles reverenciam os incentiva a irem às ruas. No lugar do luto e do choro, a morte de mais de 60 mil pessoas provoca festejos nas ruas do Leblon.

O bairro carioca é a síntese do Brasil atual, por trás do balcão, um grupo de pequenos e médios capitalistas tentando, a todo custo, sobreviver. Do outro lado, uma classe média, na sua grande maioria, simpatizante do fascismo. No meio, oprimidos por esses grupos, estão os trabalhadores, moradores das periferias, que são obrigados a sair de casa e se expor ao contágio para garantir a sobrevivência.

Se o Brasil morresse hoje, poderíamos escolher entre dois epitáfios: "Prejudicar os negócios por causas dos mortos? Nem pensar" ou "Cidadão, não. Engenheiro civil formado e melhor que você." O vírus contaminou Bolsonaro, o futuro nos dirá se estamos diante de uma farsa ou de uma tragédia. 

 

O que você achou desse conteúdo?