Na última eleição, a SOS Mata Atlântica chamou a atenção na carta Desenvolvimento para Sempre para a necessidade de os governos adotarem uma agenda ambiental forte, que promovesse o desenvolvimento para todos e valorizasse os biomas e a diversidade. Na carta Desenvolvimento para Sempre, apontamos rumos estratégicos para o País. Porém, a rota adotada seguiu na contramão. Os índices de desmatamento na Amazônia e na Mata Atlântica aumentaram e o Brasil se afastou completamente dos compromissos assumidos no Acordo do Clima de Paris, ao ponto de a ONG ser levada a atualizar seu manifesto dos anos 1980 para denunciar que "Continuam tirando o verde da nossa Terra".
A imagem esfacelada do Brasil no cenário internacional levou líderes empresariais a se posicionaram de forma clara ao presidente do Conselho Nacional da Amazônia Legal, o vice-presidente Hamilton Mourão. O alerta levado à reunião entre investidores de fundos e o governo brasileiro veio em boa hora, mas não basta. É fundamental que o desmonte das políticas públicas ambientais deflagrado pelo próprio governo cesse e que o País honre os compromissos internacionais dos quais é signatário para uma agenda efetiva de retomada do desenvolvimento pós-pandemia. Não adianta maquiar, precisamos urgentemente que esse chamamento verde ecoe e seja colocado em prática.
A retomada da economia depende da nossa capacidade de valorizar os patrimônios naturais do País e escolher setores estratégicos capazes de atuar como indutores da recuperação, gerando empregos, renda e prosperidade de forma sustentável.
Na contramão de países arrojados, o Brasil se tornou mau exemplo no combate à pandemia, nos ataques à democracia e, principalmente, ao desperdiçar e desvalorizar seu capital ambiental. O direcionamento equivocado do governo estimula o desmatamento - que pode provocar alteração no regime de chuvas sobre o Sudeste e Centro-Oeste e prejudica a agricultura, a geração de energia e atividades fabris.
A intenção de desproteger a Mata Atlântica para "deixar a boiada passar", conforme anunciado na fatídica reunião ministerial que se tornou pública por decisão judicial, agravará crises de abastecimento de água com potencial de afetar milhões de pessoas. Além disso, o abandono da agenda de combate às mudanças do clima poderá tornar a vida nas cidades mais insalubre.
A Mata Atlântica, que abriga três dos maiores centros urbanos da América do Sul e responde por 70% do PIB nacional, é estratégica para que o Brasil cumpra as metas de restauração florestal assumidas no Acordo de Paris. A restauração é um segmento do agronegócio gerador de desenvolvimento social, que sustenta uma grande cadeia de mercados e é financeiramente atraente.
Enquanto milhares de brasileiros enfrentam como podem o isolamento social e o impacto da pandemia, ou sofrem por amigos e parentes que partiram, os gestores públicos deveriam se dedicar a buscar novos horizontes. Ignorar ou renegar a agenda ambiental não é uma opção de governos conectados às necessidades presentes e futuras de sua população e do planeta.