As dinâmicas do crime são constituídas pela participação de sujeitos que ocupam posições de dominação em coletivos criminais. São pessoas reconhecidas como lideranças em razão da sua posição e capacidade de organizar, gerir e dar consequência às ações de grupos criminosos. O papel desses sujeitos é fundamental para manutenção de laços sociais e a gestão de esquemas ilegais. Por isso, o enfrentamento a essas lideranças ocupa boa parte das ações do Estado contra os grupos criminosos que atuam em suas fronteiras.
No Brasil, o controle social desses sujeitos evidencia o fracasso do sistema de segurança pública e sua incapacidade de funcionar dentro dos limites estabelecidos pelos direitos humanos. Em nome da "segurança", lideranças locais são transferidas para o sistema federal que funciona como um sistema de exceção, com a responsabilidade de isolar lideranças em um "regime especial" cuja possibilidade de existir só é possível a partir da violação de direitos e do desrespeito à dignidade humana. Diante disso, a questão que se impõe ao poder público é a seguinte: qual o problema em ter um sistema regular e ordinário capaz de responsabilizar praticantes de crimes dentro dos limites estabelecidos pelos direitos humanos? A resposta passa pela compreensão dos interesses eleitorais de políticos profissionais interessados na gestão do caos. Ademais, o sistema atual atende aos interesses arbitrários de um judiciário ineficiente e grupos empresariais envolvidos na gestão de prisões no País.
Isolar presos no sistema federal se tornou conveniente, também, para a gestão irresponsável dos sistemas estaduais cuja dinâmica, por incompetência de governantes, foi sendo dominada por coletivos criminais que fazem a gestão da vida e da morte de pessoas encarceradas. Se o sistema não atende aos interesses da sociedade, ele deve ser rediscutido com a participação da sociedade de maneira democrática e republicana. Qualquer coisa fora desse horizonte representa uma regressão autoritária que, infelizmente, parece atender ao desejo de segmentos fascistas presentes na política brasileira.