Países que adotaram estratégias de distanciamento social coordenadas nacionalmente foram bem sucedidos na contenção da pandemia; os que não o fizeram, colheram os piores resultados. Entre os últimos se destacam o Brasil e os Estados Unidos. Ambos governados por presidentes negacionistas, ambas federações de grande extensão territorial em que governos estaduais e locais adotam estratégias discrepantes e descoordenadas frente à Covid-19.
No federalismo brasileiro, como em outros mundo afora, a opção por assegurar direitos sociais nacionais requereu mecanismos de coordenação das ações de estados ou governos locais para atingir objetivos nacionais, como ocorreu no nosso SUS. A Emenda Constitucional 29/2000 fixou despesas mínimas com saúde para cada nível de governo; as transferências condicionadas de recursos induziram programas nacionais estruturantes como o Saúde da Família em escala nacional; e arenas federativas de pactuação como a Comissão Intergestores Tripartite fizeram com que o SUS se tornasse "único". Era grande vantagem em relação à federação norte-americana no enfrentamento à Covid-19, mas o Governo Bolsonaro a jogou fora, assim como desprezou o aprendizado institucional do Ministério da Saúde, agora militarizado e esvaziado tecnicamente.
Sem coordenação central, estados e municípios passaram a atuar fora de uma estratégia nacional de contenção diante de um vírus que não respeita fronteiras. A diversidade decisória, típica do federalismo americano, amplia sobremaneira suas chances de permanência e estragos nas duas federações, como mostra o crescimento da pandemia no Centro-Oeste e Sul brasileiros ou no Sul dos Estados Unidos. O dilema de estados e municípios entre ceder ou não ao relaxamento não é um problema individual, mas coletivo, de toda a federação. É dos governos centrais o papel de evitar que governos subnacionais façam escolhas em prejuízo da coletividade, induzindo a cooperação de todos para que cada um se "salve do próprio egoísmo". Nem Bolsonaro, nem Trump estão dispostos a exercer este papel: eles próprios atacam suas federações enquanto a Covid-19 nos dá mais uma lição sobre os problemas de ação coletiva.