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Carlos Magno Castelo Branco Fortaleza: A Covid-19 toma o rumo do sertão
Opinião

Carlos Magno Castelo Branco Fortaleza: A Covid-19 toma o rumo do sertão

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Carlos Magno Castelo Branco Fortaleza
Médico infectologista e epidemiologista, professor da Faculdade de Medicina de Botucatu, Universidade Estadual Paulista (Unesp)
 (Foto: Acervo pessoal)
Foto: Acervo pessoal Carlos Magno Castelo Branco Fortaleza Médico infectologista e epidemiologista, professor da Faculdade de Medicina de Botucatu, Universidade Estadual Paulista (Unesp)

O mundo é bem menor do que pensamos - uma pessoa espirra e tosse em Wuhan, e em seis meses temos 15 milhões de infectados. Dá para culpar a China? Claro que não. A Gripe Espanhola (em que pese o nome) parece ter surgido nos Estados Unidos, e matou 50 milhões de pessoas em 1918 e 1919. A Malária veio da Europa e da África. A Peste Negra que assolou o ocidente no século XIV teve início na Turquia. O Brasil, se não foi o berço, foi o maior exportador de Zika para o mundo.

Ninguém está 100% seguro. As doenças de transmissão respiratória, como a Covid-19, adaptam-se particularmente bem ao movimento das pessoas. Como hoje em pouco tempo se dá volta ao mundo, a área chamada "saúde dos viajantes" ganhou proeminência. A Organização Mundial da Saúde lançou a última atualização do Regulamento Sanitário Internacional em 2005, quando todos achávamos que a gripe aviária mataria milhões de pessoas. Resumindo, sabíamos que uma pandemia aconteceria. Só erramos o vírus.

Estudos feitos no estado de São Paulo mostraram que as doenças se iniciam nas grandes metrópoles. São Paulo, Rio de Janeiro e Fortaleza foram vítimas do "efeito inóculo": seus aeroportos recebem a maioria dos voos oriundos da Europa. As regiões metropolitanas têm uma população em constante movimento pendular. Os geógrafos as chamam macrometrópole, ou "metrópole ampliada". Nessa região, a Covid-19 se dissemina como um tsunami: por vizinhança, bairro a bairro, quarteirão a quarteirão. É o padrão de espalhamento por contiguidade.

Um segundo padrão segue as "vias estruturantes", os eixos rodoviários. Nestes, o vírus dá saltos em cidades de maior influência regional, como, no Ceará, Sobral, Iguatu, Crato, Juazeiro. A partir delas, afeta as cidades menores. Esse é o momento que vivemos na pandemia: o acometimento do "Brasil Profundo".

Preocupa o fato de a Covid-19 avançar sobre municípios menores, com população envelhecida e menos acesso à saúde. Aumentam as responsabilidades dos governantes, e também dos cidadãos - cada um responsável por não adquirir e não passar adiante uma doença potencialmente fatal. 

 

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