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Juliana Trece: A marcha lenta da economia
Opinião

Juliana Trece: A marcha lenta da economia

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Tipo Notícia Por
Juliana Trece
Economista do Núcleo de Contas Nacionais do FGV IBRE SUEP e doutoranda na Escola Nacional de Ciências Estatísticas (ENCE) do IBGE
 (Foto: Acervo pessoal)
Foto: Acervo pessoal Juliana Trece Economista do Núcleo de Contas Nacionais do FGV IBRE SUEP e doutoranda na Escola Nacional de Ciências Estatísticas (ENCE) do IBGE

A pandemia de Covid-19 tem causado diversos impactos negativos na economia brasileira como nunca observado anteriormente. Se confirmada a estimativa do Boletim Focus do Banco Central, a retração de 6% do PIB para este ano, será a pior queda da série histórica, em mais de cem anos.

A necessidade de adoção de medidas de isolamento social para diminuir o ritmo de contágio do vírus, para não colapsar o sistema de saúde, atingiu praticamente toda a economia com registro de retrações recordes em várias atividades resultando na entrada do Brasil em recessão no 1º trimestre de 2020, segundo o Codace. O Monitor do PIB da FGV mostra que, apenas de fevereiro a abril a economia brasileira perdeu 13,8% do seu nível de atividade. Em apenas dois meses (março e abril) o PIB teve uma perda acumulada maior do que em qualquer recessão anterior. No mesmo período a economia cearense encolheu 15%, segundo o IBCR-CE do Banco Central, sendo o segundo estado, dentre os 13 investigados, a registrar a maior perda acumulada.

Tal cenário mostra que os desafios que se colocam a frente são enormes tanto a nível nacional quanto local. Embora a pandemia de Covid-19 tenha atingido negativamente diversas economias pelo mundo, em nosso País ela agravou um quadro econômico que já era delicado desde meados da última década. Este ano, pela primeira vez, entramos em um período recessivo sem termos recuperado a perda acumulada da recessão anterior. A retomada econômica, tanto brasileira quanto cearense, foi muito lenta nos três últimos anos. O crescimento médio no período foi próximo de 1,0% no Brasil e 1,5% no Ceará, enquanto o mundo cresceu em torno de 3,5%.

Isto mostra que a nossa economia estava travada antes mesmo de chegar a pandemia, com condições fiscais desfavoráveis e elevado nível de incerteza que impediram uma retomada mais robusta através do aumento dos investimentos. Atualmente esses indicadores pioraram com a pandemia chegando a recordes negativos. O fechamento de diversas empresas e o aumento do contingente de vulneráveis só ampliou nossos desafios que já são de longa data. Tudo indica que, se nenhuma providência mais concreta para a retomada econômica for tomada, através do estímulo ao investimento, a recuperação da atual crise pode ser ainda mais lenta e gradual do que foi a anterior. 

 

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