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Monalisa Torres: Pandemia, eleições e o lugar da mulher
Opinião

Monalisa Torres: Pandemia, eleições e o lugar da mulher

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Monalisa Torres
Professora da Uece e pesquisadora do Laboratório de Política, Eleições e Mídia (Lepem-UFC)
 (Foto: Acervo pessoal)
Foto: Acervo pessoal Monalisa Torres Professora da Uece e pesquisadora do Laboratório de Política, Eleições e Mídia (Lepem-UFC)

A participação feminina na política no Ceará é relativamente recente. As primeiras mulheres eleitas no estado datam de 1947. Em 1986, Maria Luiza foi a primeira prefeita de capital no Brasil.

De lá para cá, mais mulheres vêm ocupando espaços de poder. No entanto, a participação feminina ainda está aquém do esperado. A título de exemplo, desde a redemocratização até hoje, tivemos cinco candidatas a governadora. Somente em 2014 elegemos a primeira vice-governadora. Dos 184 municípios cearenses, apenas 23 elegeram prefeitas em 2016. Nas eleições de 2018, de 22 deputados federais, apenas uma é mulher. Na Assembleia Legislativa, elegemos seis deputadas num universo de 46 vagas em disputa.

Há dois aspectos que ajudam a entender a sub-representação feminina na política: um estrutural e outro institucional. O primeiro diz respeito a cultura conservadora e machista de nossa sociedade. Mulheres ainda são, majoritariamente, as responsáveis pelos cuidados com a casa e com os filhos. As segundas e terceiras jornadas de trabalho acabam por reduzir o tempo livre para a dedicação a atividades políticas. O que se agravará considerando que as eleições de 2020 ocorrerão num contexto de pandemia.

Reportagem do O POVO de 1 de agosto destacou que 50% das brasileiras passaram a cuidar de alguém na pandemia. Nesse cenário, a sobrecarga de trabalho dificultará a participação das mulheres nas eleições. Quando consideramos renda e raça, o panorama tende a piorar.

Do ponto de vista institucional, as mulheres são negligenciadas dentro dos próprios partidos. Apesar da cota de gênero, que na prática obriga partidos a preencherem 30% de candidaturas e destinar o mesmo percentual de recursos nas candidaturas femininas, a ausência de mulheres em posições de decisão influencia a alocação desses recursos, tornando comum o fenômeno das candidaturas laranjas.

Um dos critérios de análise da qualidade da democracia é o pluralismo. Daí que fortalecer candidaturas femininas e garantir-lhes competitividade é essencial para espaços mais plurais de debate, o que, vale destacar, deve extrapolar questões ideológicas. 

 

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