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Lucas Leite: Descrédito internacional e isolamento
Opinião

Lucas Leite: Descrédito internacional e isolamento

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Tipo Notícia Por
Lucas Leite
Doutor em Relações Internacionais e professor na Faap e Unicsul
 (Foto: Acervo pessoal)
Foto: Acervo pessoal Lucas Leite Doutor em Relações Internacionais e professor na Faap e Unicsul

A política externa brasileira do pós-redemocratização é marcada por princípios bem definidos: a busca pela paz, o respeito ao Direito Internacional e às instituições, o multilateralismo e a cooperação com os países vizinhos. Esta forma de conduzir nossas relações exteriores passou por modificações ao longo dos governos que se sucederam, mas sempre houve uma busca da garantia de interesses do Brasil no cenário internacional - cada um a seu modo, é importante ressaltar.

A defesa de princípios e interesses não é apenas retórica, ela serve como guia da nossa atuação, com objetivos claros e pragmáticos. Por isso, uma pergunta que sempre deve ser feita é: o que queremos e de que forma? Ou seja, a inserção brasileira deve ser empreendida a partir dos seus recursos materiais e simbólicos. Não somos um país militarista, aventureiro e expansionista. Portanto, uma política externa focada na cooperação é imprescindível para garantir nossos interesses.

Jair Bolsonaro e seu ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, parecem não entender a relação entre interesses e princípios. Ao abandonar uma inserção pragmática do Brasil no cenário internacional e abusar de malabarismos ideológicos, o atual governo enfraquece nosso poder de persuasão e atratividade. A diplomacia brasileira, comumente vista como instrumento de Estado, perde sua essência e é levada a seguir pela via do isolamento e da aproximação com uma agenda de interesses pouco pragmática.

Antes considerado um país progressista e de vanguarda em termos da atuação nas instituições internacionais, o Brasil agora é percebido como párea. Isso pode ser visto no padrão de votações nas organizações internacionais, em que nossa posição se assemelha a de países como Arábia Saudita, Paquistão, Egito, Iraque e Hungria - considerados pouco ou nada democráticos, contrários à agenda de direitos humanos, meio ambiente e direitos de minorias. Além de seguirmos os Estados Unidos sem ganhar nada em troca.

Tornamo-nos extremistas, perdemos respeito e autoridade, estamos isolados e excluídos. Afinal, o que quer Bolsonaro? 

 

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