Os 33 deputados evangélicos que, na Assembleia Constituinte organizaram-se para pretensamente assegurar os interesses dos fiéis na Constituição Cidadã de 1988, formaram o que parecia ser uma articulação legítima de um segmento da sociedade que se une para a disputa por espaço político. Desde então os fiéis são conclamados a votar em representantes da mesma fé, e para manter o rebanho unido num projeto de poder, utilizam-se da criação de um inimigo fictício e de ameaças infundadas como metodologia para angariar prestígio e voto.
Nesta trama pelo poder, os evangélicos já apoiaram Collor, FHC, Lula, Dilma e agora Bolsonaro (até quando?). Eduardo Cunha já foi a voz dos evangélicos no Congresso Nacional, plenamente apoiado por líderes televisivos, recebido com pompa nos púlpitos, até ser preso e nenhum dos seus amigos pastores foram lhe visitar.
Os evangélicos no Brasil têm um projeto de poder e parecem estar dispostos a tudo para implementá-lo.
Essa é a caricatura dos evangélicos: pastores ricos e com mandato parlamentar, redes de rádio e TV e muito dinheiro circulando sem controle social e transparência, como os dízimos.
Mas há que se fazer justiça: os evangélicos não são essa caricatura raivosa e opulenta. Há pastores e pastoras que fazem do seu ministério uma declaração de amor e serviço às pessoas. São homens e mulheres que se dedicam a defender a vida em todas as suas formas, estão no campo e na cidade a promover os direitos humanos, a natureza e a pluralidade religiosa como tesouros da humanidade. Se posicionam veementemente contra qualquer discriminação por raça, credo ou gênero. Os evangélicos no Brasil são plurais e diversos.
Aqui mesmo no Ceará temos pastoras e pastores com envergadura ético-espiritual que não deixam a desejar em nada a grandes vultos da fé. Rvda. Elizabeth e Pr. Ivan da Igreja Metodista, Pr. Marcelo da Betesda em Sobral, Pr. Raimundo da Assembléia de Deus em Aurora, Rvda. Rosângela da IPIB, Revda. Eldia em Caucaia, Pr. Igor Simões da Igreja Metropolitana formam uma miríade de gente honesta, comprometida com o evangelho e com os direitos humanos. Em nome delas e deles não se pode generalizar os evangélicos. No País polarizado é importante manter a lucidez e lançar luzes sobre o que pode nos trazer esperança.