Logo O POVO+
Silvana Parente: Nova economia e os economistas
Opinião

Silvana Parente: Nova economia e os economistas

Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Silvana Parente é doutora em Economia e vice-presidente do Conselho Regional de Economia do Ceará (Foto: Acervo pessoal)
Foto: Acervo pessoal Silvana Parente é doutora em Economia e vice-presidente do Conselho Regional de Economia do Ceará

A crise da pandemia tem desafiado os economistas a buscar soluções diferentes das que aprenderam nos manuais da academia e das boas práticas mundialmente reconhecidas. A ciência econômica, por ser uma ciência social, tem seus fundamentos historicamente revisados em momentos de crise, como o foram no crash da bolsa de Nova York em 1929, na recuperação dos pós-guerras, na crise do petróleo nos anos 1970, no endividamento externo nos anos 1980 e na crise imobiliária americana de 2008.

A crise da pandemia atingiu o Brasil de forma implacável, considerando que a economia brasileira estava saindo de uma recessão, com dificuldades para retomada do crescimento, além dos problemas estruturais acumulados do desemprego, pobreza e desigualdades. O enfrentamento da pandemia exigiu medidas de isolamento social, afetando a produção e o consumo e desnudando a precariedade do mercado de trabalho.

A única forma de garantir o sustento de quase a metade da força de trabalho foi a interveniência do Estado, seja com transferência direta de renda até medidas de facilitação do crédito. Três questões precisam ser rediscutidas no âmbito da economia política, que giram em função do papel do Estado na economia.

Primeiro, o impacto fiscal com medidas emergenciais e novos investimentos necessários para a retomada da economia terá que ser diluído a médio e longo prazo, tornando impraticável a manutenção do teto de gastos, exigindo o seu redesenho. O ritmo da recuperação da economia dependerá de outras políticas, para além das medidas macroeconômicas, tais como a capacidade de articulação entre o Estado e o setor privado e investimentos públicos estratégicos na busca de competitividade, inovação e reconversão industrial para atender demandas da sociedade como o complexo da saúde, educação, ciência e tecnologia, logística e tecnologias da informação e comunicação.

Segundo, a necessidade de um instrumento de renda mínima que garanta a necessária proteção social à população pobre e aos trabalhadores em situação de vulnerabilidade. Terceiro, além da desconcentração do sistema financeiro nacional, será necessário um reordenamento do sistema tributário para além da simplificação de impostos, com viés progressivo e distributivo, de formas a injetar recursos na base da sociedade e impactar toda a economia. 

 

O que você achou desse conteúdo?