As notícias sobre a desastrosa política ambiental do governo Bolsonaro retornaram às manchetes jornalísticas. Resultados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) mostram um substancial aumento nos alertas de desmatamento e focos de queimadas na Amazônia e o embate entre o ministro Ricardo Salles e a ala militar do governo evidenciou sua desestruturação e inépcia no cumprimento de suas obrigações constitucionais referentes ao meio ambiente. No entanto, a notícia que talvez tenha causado mais reações negativas foi a do aporte de recursos extras ao Ministério da Defesa, para compra de um satélite-radar, enquanto que a proposta orçamentária para 2021 prevê zerar recursos aportados ao Inpe pela Agência Espacial Brasileira em programas como observação da Terra e desenvolvimento de novos satélites.
A maioria dos satélites utilizados para monitoramento do desmatamento, como os satélites CBERS e CBERS 4A desenvolvidos pelo Inpe, é de satélites ópticos, que têm câmeras especiais que fotografam a região observada. No entanto, como a luz é fortemente absorvida pelas nuvens, as imagens são prejudicadas durante o período chuvoso.
Os satélites-radar, por outro lado, empregam um radar, como os de aeroportos, que emite impulsos de onda eletromagnética direcionados para o solo e detectam o sinal por ele refletido. Como estão na faixa de microondas, os impulsos atravessam as nuvens com muita pouca absorção. Os sinais refletidos pelo solo dependem de suas características e, através de complexo processamento computacional, fornecem imagens em preto e branco de sua cobertura.
Quando necessário, o Inpe complementa seus dados com imagens de satélites-radar estrangeiros, como as do satélite Sentinel 1, da Agência Espacial Europeia, fornecidas gratuitamente. Mas, em paralelo, tem investido no projeto de um satélite-radar nacional. Entre 2001 e 2007 concluiu a fase inicial do projeto Mapsar, em colaboração com a Agência Espacial Alemã, e, no ano passado, participou de um grupo de trabalho com a Comissão de Coordenação e Implantação de Sistemas Espaciais (CCISE), do Comando da Aeronáutica, para desenvolvimento de um satélite SAR (Satélite Radar de Abertura Sintética) que atendesse conjuntamente as demandas civis de observação da Terra e as militares de vigilância. Este satélite deveria operar na chamada banda L, mais apropriada para monitoramento de florestas e que atende as necessidades da grande maioria dos usuários nacionais.
No entanto, ao invés de prosseguir com essa iniciativa, que fortalece nossa indústria e atende os interesses soberanos do País, o governo decidiu alocar os recursos disponíveis à compra de um satélite SAR estrangeiro, operando na banda X, que é útil para aplicações militares mas muito pouco eficaz para monitoramento do desmatamento na floresta amazônica.