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Antônio Colaço Martins Filho: Propósito ou morte
Opinião

Antônio Colaço Martins Filho: Propósito ou morte

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Tipo Notícia Por
Antônio Colaço Martins Filho
Chanceler do Centro Universitário Fametro (Unifametro)
 (Foto: Acervo pessoal)
Foto: Acervo pessoal Antônio Colaço Martins Filho Chanceler do Centro Universitário Fametro (Unifametro)

Certa feita, questionada sobre o que o estudante de Psicologia busca no curso de graduação, uma experiente professora pontificou: os alunos buscam entender as dores, as angústias, em suma, os sentimentos, suas causas e repercussões. Deslumbrado com a descoberta, secundei que a conclusão me remetia a uma reflexão de José Saramago, em seu romance, A viagem do elefante, no qual o Nobel de Literatura compara o passado a um imenso pedregal que muitos percorrem como se fosse uma rodovia, ao passo que outros levantam cada uma das pedras "porque precisam saber o que há por baixo delas".

O professor Clayton Christensen, ao analisar o que os estudantes buscam no ato de frequentar as escolas, concluiu que eles almejam a valorização pessoal e a companhia de seus amigos. As finalidades, nada sofisticadas, vão de encontro ao destaque que as instituições de ensino costumeiramente conferem à infraestrutura, ao currículo etc. Em face dos propósitos estudantis acima elencados, o autor indica que as gangues são concorrentes diretas das escolas. A evasão escolar em proveito das organizações criminosas e os rituais de iniciação de ambas as ocupações denotam o acerto do autor.

No momento em que o Google lança o Google Career Certificates, programas de seis meses que pretendem ser menos onerosos e mais valorizados pelos empregadores do que cursos de graduação, faz-se imperioso ter uma atenção especial pelo que motiva cada estudante a se matricular.

Ao investigar qual o job to be done dos cursos de ensino superior, entendo que as instituições de ensino superior não devem se contentar com os burocráticos formulários, que costumam apontar empregabilidade, aquisição de conhecimento e ascensão na carreira como motivadores da escolha de todos os ingressantes, independentemente da carreira que escolheram. Entendo que se faz necessário criar processos de escuta qualitativa, desvinculada de interesses corporativos e que seja capaz de captar também aquilo que não se esperava escutar.

Imersas em um oceano escarlate e constantemente ameaçadas por players de outros setores da economia, as universidades precisam abandonar a tradicional postura de elaborar currículos e experiências, de costas para os estudantes e seus propósitos, sob pena de receberem o mesmo tratamento em retribuição. 

 

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