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Hilário Ferreira: O oportunismo da branquitude
Opinião

Hilário Ferreira: O oportunismo da branquitude

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Tipo Notícia Por
Hilário Ferreira
Mestre em História, professor da UniAteneu e pesquisador da História e cultura negra cearense
 (Foto: Acervo pessoal)
Foto: Acervo pessoal Hilário Ferreira Mestre em História, professor da UniAteneu e pesquisador da História e cultura negra cearense

Semana passada li duas matérias sobre o fato de muitos candidatos estarem mudando sua cor, de branco para negro. A primeira tratava dos candidatos à prefeitura de Fortaleza, a segunda, se estendia para a região Nordeste. O portal Ceará Criolo, pesquisou os registros dos 105 candidatos das nove capitais nordestinas. Eles analisaram 364 documentos de 2004 a 2020. Daí, foi observado que muitos brancos registraram sua cor como negra. Isso é algo que está ocorrendo no Brasil todo - um total de 21 mil políticos alteraram sua cor. Alguns se assumindo negro.

Fiquei intrigado, candidatos descaradamente brancos mudarem sua cor para negro ou pardo? Num País que ser negro é viver diariamente confundido com bandido? Por que estes cidadãos querem assumir esta identidade? Oportunismo, é o que vem à mente. Serem tratados pela polícia como um negro, está fora de cogitação.

Esses candidatos brancos que alteraram sua cor nada mais fazem que se apropriarem de forma indevida de uma política afirmativa conquistada pelo movimento negro organizado. Deviam ser processados. Na verdade, procuram aqui, preservar o privilégio branco e impedir o crescimento do negro nesta atitude racista. Muitos brancos, orientados pelos partidos (oportunismo), estão usando as cotas raciais para garantirem recursos e as candidaturas. Essa lei seria discutida somente em 2022, porém, o ministro do STF Ricardo Lewandowski antecipou sua promulgação.

A alteração determinada por Lewandowski mexe com a distribuição do fundo partidário. Hoje, é previsto dividir 70% dos recursos para homens, 30% para mulheres. Dentro desta regra, as candidaturas negras se incluem na proporção da divisão do dinheiro de campanha. Daí a migração de candidatos brancos ou pardos para negros podem significar mais dinheiro para a corrida eleitoral dentro dos partidos.

Essa não é uma prática isolada. O fato de brancos estarem se utilizando de recursos destinados à população negra é algo habitual. Os meios criados pela branquitude para barrar ou se apropriar das conquistas negras são diversos e revela uma certa fragilidade. Há um medo da concorrência e da perda dos privilégios. Até em concursos em que há cotas raciais para negros, os brancos se inscrevem. Entretanto, essa "fragilidade branca é um meio poderoso de controle e de proteção das vantagens brancas" (Robin Diagelo, Fragilidade Branca). 

 

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