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Cleto Brasileiro Pontes: Uma perversão a mais
Opinião

Cleto Brasileiro Pontes: Uma perversão a mais

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Cleto Brasileiro Pontes, psiquiatra e escritor (Foto: Rodrigo Carvalho, em 11/09/2008)
Foto: Rodrigo Carvalho, em 11/09/2008 Cleto Brasileiro Pontes, psiquiatra e escritor

Todos mascarados, bem higienizados a sabão, álcool em gel 70% e distância regulamentar de dois metros, e ainda assim o vírus não sai do nosso juízo. Parece até com o morcego do romance de Augusto dos Anjos, ou o rinoceronte de Eugène Ionesco, ou ainda o nazismo de Hitler. A perversão gera duas grandes síndromes: alienação mental ou transtorno psíquico recheado de angústia, ansiedade e somatização.

A psiquiatria como especialidade médica difere das demais áreas médicas, basicamente por dois fenômenos: o de lidar com o invisível e o de lidar com os conceitos. A dor da mente é invisível, diferentemente de uma fratura exposta, uma hipertensão, um câncer, pois nada se constata a olho nu, por radio imagem, nem exame de sangue, etc. Quanto ao conceito, ele é mutante diferentemente de um braço quebrado, conhecido antes de Cristo. A Organização Mundial da Saúde (OMS) há trinta anos trata o sofrimento psíquico como um transtorno. Os norte-americanos no seu código DSM-5 chamam de desordem. No passado era neurose, psicose, loucura e outras denominações.

Sigmund Freud que vivenciou muitos caos com a queda do império húngaro-austríaco, a grande guerra mundial, faleceu exatamente no início da sua segunda fase, em 1939. Com a pandemia pós-guerra certamente estaria de consultório cheio de pacientes diagnosticados prevalentemente com neurose de ansiedade ou angústia.

O primeiro antidepressivo foi industrializado em 1956 na Suíça e a psiquiatria mais prestigiada do mundo era a francesa, até os últimos anos da década de setenta quando migrou para os Estados Unidos. No seu auge, os psiquiatras franceses mudaram o conceito freudiano para depressão ansiosa com somatização. Mais recentemente com a Classificação Internacional das Doenças - edição 10 (CID-10), em vigor desde 1992, estabeleceu-se um grupo de enfermidades denominadas de transtornos neuróticos ansiosos com somatização, incluindo o stress, o TOC, ansiedade generalizada, pânico, hipocondria e outros mais. Karl Jasper se utilizando do paradigma filosófico por ele denominado de fenomenologia explicaria de uma maneira muito simples, ou seja, com um estreitamento do campo da consciência e o foco sendo algo desagradável, tais transtornos surgiriam com o recrudescimento da ansiedade e o resto ficaria sob um plano inferior. Vale ressaltar que tais colocações não legitimam o fato do general Mourão dizer que não houve golpe em 1964, de o ministro do Meio Ambiente afirmar que a Amazônia não está em chama, de o ministro da Saúde dizer que desconhecia o SUS e o Bolsonaro ter erradicado a corrupção e a Lava Jato só por ter demitido o Sergio Moro do Ministério da Justiça porque estamos em tempo de pandemia. São fatos que merecem um outro conceito que não o estreitamento do campo da consciência talvez, o mais apropriado seria o de psicopatia generalizada. 

 

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