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Natalia Pasternak: Por que confiar na ciência?
Opinião

Natalia Pasternak: Por que confiar na ciência?

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Natalia Pasternak 
Doutora em Microbiologia e presidente do Instituto Questão de Ciência (IQC)
 (Foto: Paulo Vitale/Divulgação)
Foto: Paulo Vitale/Divulgação Natalia Pasternak Doutora em Microbiologia e presidente do Instituto Questão de Ciência (IQC)

Nunca a ciência ou os cientistas estiveram em tão alta demanda. Nunca vimos tantos cientistas pelo mundo dando entrevistas, aconselhando gestores. Também nunca vimos tanta gente acompanhando de perto os trabalhos da ciência. Isso tudo mostra que as pessoas sabem que a solução para a pandemia está na pesquisa científica. Mas a falta de familiaridade prévia com a ciência e seus processos faz com que a população não tenha as ferramentas necessárias para filtrar o que é boa ciência, e o que não é.

Sabemos, que aviões só voam e remédios só funcionam quando respeitam as leis da ciência. Sabemos que essas leis estão por trás dos celulares e dos GPS dos nossos carros. Mas nunca prestamos muita atenção no processo, em como o conhecimento por trás dessas tecnologias é gerado. Isso pode ser perigoso.

A ciência é forjada em perguntas e não em respostas. Não traz verdades absolutas, mas hipóteses a serem testadas. Oferece conhecimento, mas exige discernimento e bom senso, e não obediência cega. Neste sentido, não oferece o alento da verdade absoluta.

Saber comunicar os processos da ciência, o método científico, torna-se, portanto, o principal desafio da ciência nesta pandemia. Se a sociedade quer acompanhar os progressos de medicamentos e vacinas, cabe a nós, então, explicar estes progressos. Isso inclui a humildade de comunicar incertezas, e coisa que simplesmente, ainda não sabemos. E convidar a população a não se esconder em pânico, mas a nos acompanhar nesta jornada de descobertas. Mais do que nunca, precisamos do apoio das pessoas para que a ciência tenha tempo de produzir resultados de modo correto. E a compreensão de que estes resultados talvez não tragam soluções imediatas e fáceis.

Essa não será nossa última pandemia. Se não mudarmos nossa relação com o planeta, estamos fadados a esbarrar em mais doenças emergentes. Se continuarmos a explorar o planeta de forma predatória, ignorando o fato de que nossas ações alteram o clima e o ambiente, e favorecem nosso contato com novos reservatórios animais de vírus, estaremos em breve enfrentando outra emergência sanitária. Entender como a ciência funciona e valorizá-la é a única maneira de estarmos preparados. 

 

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