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Antonio Caubi Ribeiro Tupinambá: Chocolate e trabalho infantil
Opinião

Antonio Caubi Ribeiro Tupinambá: Chocolate e trabalho infantil

Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Antonio Caubi Ribeiro Tupinambá
Professor da UFC
 (Foto: Acervo pessoal)
Foto: Acervo pessoal Antonio Caubi Ribeiro Tupinambá Professor da UFC

O consumo de chocolate de marcas famosas como a Mars, Hershey ou Nestlé pode estar financiando a exploração do trabalho infantil em países africanos. A multinacional Cargill que também está presente em Ilhéus, na Bahia e é a maior processadora de cacau da América Latina, fornece a matéria-prima para marcas como Nestlé, Garoto, Kraft ou Arcar. Pequenas e maltratadas mãos muitas vezes feridas pelos objetos cortantes que usam para retirar a amêndoa da fruta do cacau estão na base dessa produção. Original das Américas, onde astecas e maias já o cultivavam e consumiam, o cacau se espalhou pelo mundo e se encontra hoje na África em abundância, onde se tornou a estrela da economia de alguns países. O cacau representa, por exemplo, 40% das exportações da Costa do Marfim e é responsável pelo financiamento dos projetos nacionais em seus raros tempos de paz mas também para fazer a guerra. O que ocorre atualmente nos dois grandes países exportadores de cacau da África Ocidental, Costa do Marfim e Gana deve ser do interesse de todos que consumem o produto, pois é daí que surge a demanda para a produção do fruto nessas regiões abandonadas pelo poder público e ignoradas pelos países importadores. A produção bruta se dá à sombra da moderna industrialização que joga em larga escala nas prateleiras de lojas, supermercados e nas mesas dos cafés, o então chamado “manjar dos deuses”. Para manter esse círculo vicioso os produtores se utilizam da mão de obra infantil que cresce na velocidade do seu consumo. Uma criança de cinco anos trabalhando já é algo inadmissível; uma criança dessa idade se submetendo a trabalhos altamente perigosos nessas plantações de cacau é desumano e criminoso. No entanto, as grandes marcas preferem ignorar essa origem suja da produção do cacau e ainda tratam de criar certificações questionáveis para seus produtos e ineficazes no combate ao trabalho infantil. Essa estratégia falaciosa serve apenas para atender a clientes mais conscientes que ainda exigem saber da procedência do que compram e consomem. Escolas em comunidades locais são raros exemplos de como as crianças poderiam se libertar dessa exploração, mas há a ganância das grandes corporações e dos governos que preferem não abrir mão de seus lucros e impedem a efetivação de projetos simples e eficazes como esse.

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