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Raquel Ramos Machado: Canalizar energia política
Opinião

Raquel Ramos Machado: Canalizar energia política

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Tipo Notícia Por
Raquel Machado
Doutora em Direito Eleitoral e professora da UFC
 (Foto: Acervo pessoal)
Foto: Acervo pessoal Raquel Machado Doutora em Direito Eleitoral e professora da UFC

O Brasil e o mundo têm acentuado a polarização política. O maior uso de redes sociais e de aplicativos de mensagens vem intensificando o diálogo sobre o tema. Relações pessoais e sociais são, inclusive, tensionadas, mesmo sujeitas a bolhas e grupos por assuntos.

Pesquisa do Datafolha, em 2014, já revelava que 46% dos usuários de internet compartilhavam conteúdo sobre política, 68% dos usuários do Facebook declararam ler sobre eleições em sua rede. Também têm se acentuadas manifestações de rua, em que muitas pautas se confundem, mas que não deixam de revelar anseio de participação.

Paradoxalmente, a abstenção cresce nas eleições desde 2006. Em 2018, 30 milhões de eleitores não compareceram às urnas. A crise de legitimidade de representantes certamente repercute e leva à menor participação formal, como se a frustração conduzisse à desilusão quanto ao voto.

Diante dos números sobre a participação nos ambientes digitais e das manifestações de rua, não parece correto afirmar que o brasileiro não se interessa por política. O interesse existe. O ponto a ser considerado é para onde canalizar a vitalidade política.

As alterações sociais, mesmo as decorrentes de vibrantes movimentos populares, requerem arranjo institucional para se concretizarem, com a elaboração de leis e o protagonismo de órgãos para aplicá-las.

Não sendo a Internet o espaço de articulação concreta dos interesses, dedicar-se ao tema apenas nesse ambiente é desperdício de energia cívica. O ciberespaço é relevante à democracia e à política, por fomentar a manifestação de opiniões e o despertar do interesse para o assunto. Permanecer apenas nele, porém, é como ir ao nutricionista e achar que a dieta funcionará apenas com sua leitura. É preciso agir adequadamente e o voto é um dos canais mais efetivos de mudança. A frustração com o quadro de representantes deve ser resolvida com a mudança do corpo político pelo voto e a participação continuada em outros ambientes decisórios. Que saibamos, nessa eleição e nas próximas, filtrar anseios de transformações e enquadrá-los em perfis de candidatos, para que a força cívica difusa seja instrumentalizada com a estrutura que viabiliza sua concreção. n

 

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