Conheci a palavra "iludição" no conto "Isabel", de Rachel de Queiroz. A narradora do texto conta que a personagem se casara por "iludição". Queria vestido branco. Andar na garupa de um cavalo até Quixadá. Ter marido, filhos, cozinha e terreiro próprios. Descobriu que o marido era um estrupício bêbado e violento, o filho nascera morto, a cozinha lhe avisava que a comida era incerta, o terreiro pertencia ao dono da casa, onde o casal de infelizes morava de favor.
Eu quero crer que quem votou em Jair Bolsonaro também sofre de iludição. O homem honesto com filhos honestíssimos, gente como a gente, do tipo simples que põe o pote de manteiga direto sobre a mesa e que fala o que vem na telha, afinal, que mal tem? todo mundo erra não é mesmo? O homem que prometia a tal da nova política, que faria um governo técnico, liberal, pujante que colocaria o País já, já no ritmo do crescimento definitivamente não existe.
O homem cuidadoso com a família, tudo bem que é um modelo específico de família que deveria ser imposto para todos é irreal. O amigo das igrejas, de preferências aquelas que se aliam ao governo, cujos donos - das igrejas - têm TVs onde Bolsonaro possa explanar suas ideias brilhantes sobre o mercado de trabalho, o meio ambiente, as questões urgentes da educação e os meios precisos de combate à Covid-19 não encontra par com a realidade.
A iludição da frase pronta "É melhor já ir se acostumando" não durou quase nada. As eleições municipais apontam para escolhas eleitorais que estão no caminho contrário às posições tresloucadas do presidente. Até os métodos inspirados pela campanha de Bolsonaro em 2018 com uso massivo de mídias sociais floparam.
Em Fortaleza, a campanha do Capitão Wagner foi rápida em tentar se descolar de Jair Bolsonaro. Seria um atestado de iludição flagrante? O senador Eduardo Girão pregou independência do candidato que todo mundo sabe que é recomendado por Bolsonaro, citado nominalmente no contexto eleitoral. Em tão pouco tempo a bolha do bolsonarismo mostra que a nova política nunca existiu, a sinceridade era um plano autoritário de poder, o liberalismo era um modelo que exclui o estado das suas responsabilidades. E, quanto a ser gente como a gente, parece que a maioria dos brasileiros prefere gente de outro tipo como inspiração.