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Por uma consciência negra para as marcas
Opinião

Por uma consciência negra para as marcas

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Eliziane Colares, publicitária, empresária e sócia da Advance (Foto: Acervo pessoal)
Foto: Acervo pessoal Eliziane Colares, publicitária, empresária e sócia da Advance

A dívida histórica da nossa sociedade com os negros só aumenta. O Dia Nacional da Consciência Negra, que deveria ter sido comemorado no último dia 20 de novembro, não teve festa. Na véspera, o vídeo do assassinato brutal de João Alberto no Carrefour, em Porto Alegre, foi como um balde de álcool jogado nas chamas da discussão do racismo no Brasil.

Pode-se dizer que o vídeo do assassinato de João Alberto é a versão brasileira do caso George Floyd, morto numa abordagem policial em Mineápolis, em maio deste ano, e que desencadeou o movimento Black Lives Matter - Vidas Negras Importam. Ambos morreram por asfixia. A diferença é que aqui no Brasil João Alberto foi espancado dentro de uma empresa e ele estava lá como cliente, fazendo compras. As causas que motivaram a abordagem dos seguranças não justificam de maneira alguma o trágico desfecho. E o caso não é um fato isolado. Segundo dados do Atlas da Violência 2020, publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o número de vítimas de assassinatos no Brasil entre os anos de 2008 e 2018 é 74,0% superior para homens negros e 64,4% para mulheres negras. Essa mesma desigualdade se reproduz em várias outras esferas.

A sociedade não aceita mais essa opressão, e precisamos falar sobre isso. Representatividade é fundamental, mas precisamos ir bem além e mergulhar na base econômica que nutre o racismo. Com a abolição da escravidão, em 1888, o Brasil errou em não implementar um plano de proteção social. Abandonados à própria sorte, milhares de pessoas se viram sem moradia, sem educação, sem emprego e marginalizados pela sociedade. Situação que ainda é reproduzida até hoje.

O Carrefour enfrenta agora uma crise que deixa uma mancha na sua história e tem um desafio enorme para reconstruir o prestígio da sua marca. O aprendizado que fica é que a essência do racismo está na desigualdade social estrutural e terão mais sucesso as marcas que assumirem o protagonismo, abraçarem essa causa em suas estruturas internas e sua área de influência, e contribuírem para a construção de uma nova lógica social mais humana e justa. n

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