Logo O POVO+
José Rocha: A Ford e o Enem
Opinião

José Rocha: A Ford e o Enem

Edição Impressa
Tipo Notícia Por
 José Lima de Carvalho Rocha, diretor do Colégio Christus e reitor da Unichristus
 (Foto: Acervo pessoal)
Foto: Acervo pessoal José Lima de Carvalho Rocha, diretor do Colégio Christus e reitor da Unichristus

" We don't need no thought control "

Pink Floyd, álbum The Wall em 1979

A Ford Motor Company foi fundada em 1903. Entre as várias circunstâncias que possibilitaram o sucesso, foi fundamental contar com colaboradores que cumprissem as determinações exatamente como eram explicadas pelos superiores hierárquicos. Essa metodologia permitiu a existência da produção em série. O Ford Model T, lançado em 1908, tinha preço que possibilitou sucesso de venda durante muitos anos. As cenas da produção em série podem ser observadas no filme Tempos Modernos de Charles Chaplin. Tarefas repetitivas e cansativas. A Ford nasceu durante a segunda revolução industrial ou segunda onda. As escolas aplicavam metodologia adequada ao momento. Alunos não eram estimulados a criar, pensar. O objetivo era simplesmente memorizar e demonstrar nas avaliações as proezas da memória. Será que sabiam que não sabiam?

O mundo desenvolvido já vive a quarta onda. A maioria das empresas brasileiras vivencia a transição entre a segunda e terceira. O Brasil precisa saltar a terceira e partir para a quarta. Se isso não for entendido, continuaremos a fornecer matéria-prima, produtos agrícolas para o mundo, e só. O turismo necessita de paz social e pouco desemprego. Gestores e colaboradores que pretendem trabalhar em empresas que já vivem na quarta onda não podem apenas cumprir ordens; obedecem à hierarquia, mas precisam propor produtos, métodos e até mudança de foco. Empresas estruturadas na quarta onda pagam melhores salários e, para que o trabalho aconteça, o ambiente é mais livre.

Muitas são as hipóteses que tentam explicar a saída da Ford do Brasil. Abordarei apenas o despreparo do cidadão para viver e trabalhar na quarta onda. Um dos diferenciais que o Brasil oferecia para a instalação de indústrias era a mão de obra dita barata, trabalho repetitivo e sem a participação criativa. Com a entrada da robótica na produção, esse diferencial acabou. O principal ativo das empresas competitivas na quarta onda são os colaboradores criativos. A educação formal brasileira está preparando estudantes para o futuro? Estudantes brasileiros que desejam ótima classificação no Enem e nas melhores universidades públicas nacionais precisam memorizar muito, até mais do que na década de 1970. O Enem mudou nos últimos 15 anos. A necessidade de muita memorização pauta a escola brasileira. Qual a solução? A ciência pedagógica já tem caminhos que possibilitam os estudantes a participarem da quarta onda. É necessária grande diminuição da quantidade de conteúdos, da aplicação de metodologias ativas, elaboração das provas inspiradas nas questões do Programme for International Student Assessment (Pisa), capacitação dos mestres e gestores. Saltar da segunda onda para a quarta é possível, mas vai necessitar de muito profissionalismo e paciência. O Brasil precisa acordar ou vai continuar a implorar para que indústrias aqui se instalem e vai permanecer cobrando impostos elevados, na tentativa de sustentar estrutura social que ainda vive na segunda revolução industrial. Que Deus nos ajude! 

 

O que você achou desse conteúdo?