Humanos, chimpanzés e bonobos descendem de um ancestral comum, segundo a teoria da evolução das espécies. Recentemente, cientistas documentaram, pela segunda vez, o que poderia ser descrito como uma "guerra" entre grupos rivais de chimpanzés. A primeira vez foi registrada na década de setenta, pela primatologista Jane Goodall. Os chimpanzés podem ser violentos e cruéis. Seria a nossa natureza violenta geneticamente determinada?

Guardadas as devidas proporções, chimpanzés e humanos brigam e se matam quando não são capazes de cooperar e veem o outro como ameaça a sua própria sobrevivência. Essas guerras podem ser pequenas, como a disputa por árvores frutíferas; ou maiores, como a disputa

política cada vez mais acirrada em torno da vacina ou da liberdade de gênero.

Um traço distintivo e maravilhoso dos humanos é a capacidade de cooperação. Enquanto chimpanzés e bonobos vivem em grupos de até cento e cinquenta indivíduos, os seres humanos vivem em grupos de milhões. Crenças comuns são o que nos permite viver juntos.

Vivendo juntos e cooperando, somos mais poderosos. Podemos vencer a covid e diminuir a pobreza, por exemplo. Se não conseguimos cooperar, parecemos mais com chimpanzés.

Paradoxalmente, acreditar em coisas diferentes também nos separa. Os que acreditam que os homens são superiores às mulheres, ou que o amor erótico deve ser necessariamente vivido entre um homem e uma mulher, são capazes de matar mulheres, gays e trans. No Brasil, a taxa de feminicídio é a quinta maior do mundo. Estamos em primeiro lugar quando se trata de homicídio de pessoas transgênero.

Os bonobos parecem ter seguido um caminho melhor. Eles vivem em uma estrutural matriarcal, fazem sexo por prazer e são bem menos violentos que os chimpanzés. São macaquinhos de boa. Se a violência e a intolerância são um mal, temos algo a aprender com os bonobos.

Outro traço distintivo dos humanos é o Direito. Em julgamento recente, o Supremo Tribunal Federal criminalizou a homofobia e transfobia. Talvez isso nos ajude a nos tornar mais parecidos com humanos de verdade ou, pelo menos, com bonobos. n