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Emanuel Freitas: De quantos motins se faz uma base política?
Opinião

Emanuel Freitas: De quantos motins se faz uma base política?

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Emanuel Freitas da Silva, professor adjunto de Teoria Política (Uece/Facedi), professor permanente do programa pós-graduação em Políticas Públicas (Uece) e professor permanente do programa de pós-graduação em Sociologia (Uece) (Foto: Acervo pessoal)
Foto: Acervo pessoal Emanuel Freitas da Silva, professor adjunto de Teoria Política (Uece/Facedi), professor permanente do programa pós-graduação em Políticas Públicas (Uece) e professor permanente do programa de pós-graduação em Sociologia (Uece)

Desde a redemocratização, três grandes paralisações de policiais militares ocorreram no Ceará: 1997 (Tasso), 2012 (Cid) e 2020 (Camilo). Se a primeira trouxe bastante desgaste político, causando a demissão do então secretário de segurança, as duas últimas transformaram-se em plataformas políticas, capitalizando ganhos e perdas para os mobilizadores e os governadores de então.

Sendo um dos líderes do movimento de 2012, Capitão Wagner sairia naquele ano cotado para a vice de Elmano de Freitas (PT), acabando eleito vereador da capital, depois deputado. Começava ali a oposição dele, e de parte considerável da tropa, aos irmãos Ferreira Gomes, sobretudo a Cid, embora tenha este dado início a uma série de concursos na área que, ainda sob Camilo, segue a todo vapor.

Estranhamente, mesmo com tantos novos policiais contratados, e ainda mais com a ampliação do Raio pelo Estado (quem ainda vê o Ronda do Quarteirão por aí?), os números da violência não diminuem. Força de trabalho humano, policiais, não falta. A questão, pois, reside em outro lugar, como sabemos.

O episódio do ano passado, sobretudo a partir do ato de Cid em Sobral, parece ter solidificado a postura de oposição de muitos dos militares ao grupo político no poder. Mesmo com o aceno do governo, seja Cid seja Camilo, com nomeações de secretários mais afeitos à lógica aguerrida ("sangue no olho", como disse Cid certa vez), os líderes do movimento não parecem dispostos a ceder.

Não haveria solução a não ser chegar lá, no comando do estado. Na eleição que se seguiu, apenas Sabino, identificado diretamente como liderança do movimento de fevereiro, saiu derrotado nas urnas, afirmando, talvez profeticamente, que com o encerramento do motim os militares estavam a selar seu destino.

Wagner, porém, junto de outros, soube capitalizar o movimento como insumo da oposição aos Ferreira Gomes. Acusado de "líder do motim que apavorou Fortaleza" durante as eleições, Wagner saiu-se como defensor de trabalhadores e suas famílias.

Seu bloco já está na rua, não para 2024 (uma nova disputa para a prefeitura), mas para 2022 - "a moçada já fala disso". Com tal bloco, um novo concurso para polícia também está na rua, pronto para ser realizado e, em grande parte, arregimentar sua base. 

 

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