No momento em que um diretor da Anvisa proferiu o terceiro voto decisivo para a aprovação de duas vacinas - a chinesa Coronavac, desenvolvida pelo laboratório Sinovac, em colaboração com o Instituto Butantã de São Paulo, e a segunda criada pela Universidade Oxford e a farmacêutica Astrazeneca, licenciada no Brasil pela Fundação Oswaldo Cruz - a comemoração coletiva nas redes sociais e grupos de WhatsApp brasileiros atingiu níveis reservados somente para os gols de final e campeonato.
Infelizmente, como o colapso ocorrido na cidade de Manaus ilustrou de forma explícita, o Brasil vai precisar de muito mais do que vacinas eficazes e seguras contra a Covid-19 para escapar dos múltiplos colapsos que se avizinham no nosso horizonte.
Mesmo porque serão precisos meses para que o efeito das vacinas seja sentido em termos de uma queda significativa na transmissão do coronavírus.
Todas as regiões do País apresentam crescimento de números de casos e mortes e taxas de ocupação de leitos de UTI, o Brasil enfrenta uma segunda onda da pandemia que tem tudo para ser ainda pior do que a primeira.
Este quadro ainda é mais grave porque a vasta maioria dos governantes brasileiros decidiu priorizar "a economia" de suas cidades e estados em detrimento de medidas mais restritivas de isolamento social, como o chamado "lockdown".
A princípio, a explosão de novos casos de Covid-19, bem como a enorme demanda por cuidados hospitalares, tanto de pacientes com sequelas crônicas da infecção pelo coronavírus como de pacientes com outras patologias, poderá gerar um colapso do sistema de saúde pública a nível nacional.
Existe também a possibilidade concreta de que um grande número de municípios sofra um colapso de abastecimento de insumos médicos.
Como consequência mais devastadora deste processo, várias cidades podem começar a evoluir para um colapso funerário, pela completa falta de condições de dispor dos corpos das vítimas fatais da Covid-19. Neste sentido, Manaus anunciou em alto e bom som para todo Brasil: eu sou você amanhã.
A tudo isso, temos ainda que somar um eventual colapso social e econômico, resultado do fim do auxilio emergencial, bem como do crescimento do desemprego no País.
Neste contexto avassalador, o Brasil é hoje uma nação sem rumo, onde os efeitos da pandemia são multiplicados pelo cenário político gerado pela falta de um governo federal que consiga equacionar as múltiplas crises que começam a convergir numa tempestade perfeita.
Desta forma, como o Reino Unido e outros países europeus, o Brasil precisa decretar um lockdown nacional imediatamente.
Precisa também criar, em caráter emergencial, uma Comissão Nacional de Combate ao Coronavírus, que atue de forma independente do Ministério da Saúde, para gerenciar todos os aspectos sanitários da crise da pandemia a nível nacional, incluindo a implementação de um Plano Nacional de Imunização e a supervisão da logística de distribuição de suprimentos médicos para todo o país.