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Cleyton Monte: O situacionismo profundo no Ceará
Opinião

Cleyton Monte: O situacionismo profundo no Ceará

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Cleyton Monte, cientista político, professor universitário, pesquisador do Lepem (Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia) e colunista do O POVO (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Cleyton Monte, cientista político, professor universitário, pesquisador do Lepem (Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia) e colunista do O POVO

O situacionismo é uma prática histórica no Ceará. Refere-se ao poder de atração exercido pelo governo. O historiador Raimundo Girão nos lembra casos anedóticos de políticos da terra (liberais e conservadores), apoiadores de D. Pedro II, que, ao serem informados sobre a instauração do novo regime, tornaram-se rapidamente republicanos, alardeando discursos fervorosos em defesa de Deodoro da Fonseca e Ruy Barbosa. A história nos revela outros fatos como a fatídica "União pelo Ceará" de 1962, arranjo que contou com quase todos os políticos do Estado. São cenas de um situacionismo profundo.

Os ares democráticas não anularam o modelo. Nos governos de Tasso Jereissati e durante a Era do lulismo tivemos o "situacionismo verticalizado", marcado por eleições em que o alinhamento entre as três esferas de governo era alcançado. A estratégia garantiu resultados positivos para o grupo dos Ferreira Gomes - experts na mobilização desses recursos.

Os governos de Cid Gomes e Camilo Santana produziram coalizões gigantescas. Quando os ciclos políticos conseguem atender os pedidos da base aliada inflada, a permanência no poder se faz por mais tempo. Difícil é fazer frente às demandas de muitos partidos, principalmente durante a crise econômica. Os rompimentos ocorrem justamente nesse processo de negociação. Quando o diálogo com o governo estadual fica bloqueado, os atores resolvem fazer amigos em Brasília.

Apesar do crescimento econômico na última década, o Ceará ainda ostenta índices sociais preocupantes e uma economia frágil, dependente do setor de serviços. O Estado é essencial em todos os municípios. Nos pequenos centros urbanos, a política se afasta das polarizações da política nacional, deixando a celeuma para as maiores cidades.

É fácil perceber os reflexos do situacionismo na composição dos Legislativos e mapa político das prefeituras. Mesmo quando temos crescimento da oposição, a maioria das forças orbita em torno do governo. Acaba sendo vital para a sobrevivência de muitas lideranças. Dessa forma, podemos analisar a movimentação de parte da bancada federal cearense em direção ao governo Bolsonaro. Além dos cargos e recursos, existe a possibilidade de reeleição do presidente. O situacionismo não guarda rancores ou afinidades ideológicas, prevalece o pragmatismo eleitoral!

 

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