Em meio ao aumento da mortalidade da pandemia de Covid-19, chegando a mais de 245 mil óbitos, a sociedade brasileira tem testemunhado outro crescimento estarrecedor. Aumentam as investidas de agentes privados em tentativas de aquisição das vacinas anti-covid diretamente no mercado. Algumas veladas, como associações corporativas que negociam benesses para castas jurídicas. Outras, escancaradas, como a mobilização do grande empresariado paulista e das clínicas particulares e suas associações de classe. Avalizadas pelo presidente da República, mesmo que depois esvaziadas por porta-vozes do Ministério da Saúde, essas movimentações não deixam dúvidas dos interesses que orientam o Palácio do Planalto.
Dar aval a qualquer tipo de compra ou aquisição por fora dos contratos públicos firmados pelo Ministério da Saúde com a Fiocruz e o Instituto Butantan se configura como autorização oficial para desacreditar o esquema vacinal dos grupos prioritários proposto pelo próprio governo. É oficializar o "fura-fila" e mais um desrespeito ao direito constitucional à saúde.
Apesar de falhas e omissões denunciadas pela Abrasco e as outras entidades que compõem a Frente Pela Vida, o Programa Nacional de Imunizações (PNI) estabeleceu um ordenamento na vacinação de acordo com os grupos de maior risco de desenvolver quadro clínico da Covid-19 que necessite de cuidado médico-hospitalar, baseado em consenso internacional.
Num cenário de escassez mundial na oferta de vacinas anti-Covid-19, a liberação dessas aquisições é danosa e imoral porque rompe com a universalidade e a gratuidade do Sistema Único de Saúde, o SUS. Além de dar acesso privilegiado à parte da população, é uma medida ineficiente em relação à dinâmica da pandemia e jogaria contra a própria saída da crise econômica por parte do setor produtivo, impedindo que a pandemia seja controlada e aumentando a iniquidade social no país. Temos que estar unidos para cobrar do governo vacina para todas e todos, o retorno do auxílio emergencial e o financiamento adequado do SUS.