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Os riscos que a mulher preta enfrenta
Opinião

Os riscos que a mulher preta enfrenta

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Às vezes paro e penso em tudo. Custo a crer na mulher que floresceu em mim. Foi tanta opressão de todos os lados que eu pensei que a sociedade fosse me moldar. Pensei como seria o meu cabelo liso, se eu seria bem aceita. Tive um período de raiva, não queria saber mais do meu cabelo, estava difícil cuidar. Eu me sentia sozinha sem os amigos.

A solidão parecia bater na minha porta. Primeiro que namorar estava difícil, e continua sendo. Trançar o cabelo foi a melhor forma, preso era como se eu me escondesse e ninguém mais pudesse me ver. Eu queria ser invisível, pelo menos a cor da pele não ia fazer a diferença, o meu corpo fora dos padrões não ia ser julgado.

Nossa, até parece um exagero meu! Mas não é exagero e nem lamento, a mulher preta já nasce oprimida. A boneca é branca, nos comerciais 5 crianças brancas e uma preta como atestado de que não existe racismo no Brasil, e sim uma democracia forte.

Nas minhas lembranças ter um diário era coisa para menina branca. O que uma menina preta tinha para escrever de tão importante? Eu ouvi inúmeros questionamentos quando ganhei o meu primeiro diário. E eu só queria escrever. Acho que já ali nascia em mim essa escritora que eu sou.

Mas quando você começa, você começa sem apoio e literalmente sozinha. É um mundo estranho para muitos, principalmente para a família. Eles entendem como trabalho aquilo que dá estabilidade e carteira assinada para receber o seu dinheiro todo fim do mês.

Fazer a sua própria escolha, seguir o seu caminho, requer coragem. Algumas vezes vem a rejeição. Aí você tem que aprender a ser forte mais do que o normal. O tempo todo temos que nos posicionar e jamais abaixar a cabeça pra sociedade.

Clarisse da Costa é militante do movimento negro e poetisa em Biguaçu SC.

Contato: clarissedacosta81@gmail.com

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