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Cleyton Monte: A consolidação da fake news institucional
Opinião

Cleyton Monte: A consolidação da fake news institucional

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Cleyton Monte, cientista político, professor universitário, pesquisador do Lepem (Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia) e colunista do O POVO (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Cleyton Monte, cientista político, professor universitário, pesquisador do Lepem (Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia) e colunista do O POVO

Informações inverídicas ou distorcidas fazem parte do universo político desde a antiguidade. "A vida dos 12 Césares", escrita pelo historiador Suetônio em 121 d.C é repleta de criações do tipo. Vamos encontrar o mesmo fenômeno na França de Bonaparte e na Inglaterra vitoriana.

Viajando no tempo e no espaço, encontraremos o mesmo no Brasil. Do Império ao governo Vargas, passando pela ditadura militar, as mentiras reinavam. Com a democratização das redes sociais, as fake news alcançaram capilaridade, fugindo do controle da imprensa.

Na última década, a prática se organizou principalmente no universo subterrâneo da internet. No governo Bolsonaro, temos a consolidação pública da fake news institucional.

O presidente não é o primeiro Chefe de Estado brasileiro a distorcer e inventar casos. Contudo, em seu governo, o fenômeno se disseminou e recebeu amparo institucional, seja pela participação ativa de diferentes agentes ministeriais ou mesmo pela inércia daqueles que poderiam deter tais ações. O choque veio com mais força durante a pandemia.

O desprezo pela ciência, organismos internacionais e trabalho dos profissionais de saúde é diário. Recomendações sanitárias para o uso de máscaras, distanciamento social e vacinação são tratadas como mera opinião ou exagero da imprensa e prontamente criticadas pelos exércitos virtuais.

O alvo mais recente foi o orçamento público. Para se defender das pressões políticas, o presidente apresentou uma planilha com valores altíssimos que teriam sido repassados aos governos estaduais em 2020.

A postagem foi rapidamente negada pelos governadores. Os recursos reais enviados para o combate da Covid-19 foram bem menores. São dados públicos que podem ser checados nos portais da transparência.

Não é apenas uma questão retórica. Impacta diretamente as políticas públicas. Não há dúvida que o confronto permanente com a realidade, tão característico dos populistas contemporâneos, se tornou um método do exercício do poder.

Podemos perceber isso com a vacinação em larga escala que o novo governo americano vem registrando. Bem diferente do negacionismo da Era Trump. São redes (públicas e privadas) gigantescas que se retroalimentam, regadas agora com recurso público.

E assim, seguimos colecionando mortos e factoides, fortalecendo a democracia do vale tudo. 

 

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