Logo O POVO+
Hypérides Macedo: Água por água
Opinião

Hypérides Macedo: Água por água

Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Hyperides Macedo, ex-secretário nacional de Recursos Hídricos (Foto: O POVO)
Foto: O POVO Hyperides Macedo, ex-secretário nacional de Recursos Hídricos

Quem trabalha em planejamento de recursos hídricos no semiárido do Nordeste, sabe bem do que representa a interligação de um sistema hidrográfico permanente como é o Rio São Francisco, a um sistema hidrográfico intermitente, a exemplo do Rio Jaguaribe no Ceará.

O socorro hídrico externo, que é o projeto de integração do São Francisco (PISF) funciona como um estepe hidráulico alimentando a eficiência da operação dos açudes interligados que funcionam como pulmão dessa transfusão aquática, ao mesmo tempo em que propicia uma ampliação da segurança hídrica na oferta das águas locais.

No âmbito deste contexto novo, é curioso e promissor observar que diversos ramais de suprimento de água do PISF para os principais rios da região, estão localizados à montante de importantes reservatórios que controlam os principais rios do Nordeste Setentrional.

São exemplos marcantes: Ramal de Jati (açudes Orós e Castanhão no Ceará); Ramal do Piancó (açudes Coremas e Mãe D'Água na Paraíba); Ramal do Piranhas (açudes: Engº Ávidos, na Paraíba; Oiticica e Açu, no Rio Grande do Norte); Ramal de Monteiro (açudes Boqueirão e Acauã na Paraíba); Ramal de Belmonte (açude Serrinha em Pernambuco); Ramal de Floresta (açude Barra do Juá em Pernambuco); Ramal do Apodi (açudes Pau dos Ferros e Santa Cruz no Rio Grande do Norte).

Esta estratégica distribuição no território, entre eixos hídricos externos abastecedores e mananciais locais receptores desses aportes hídricos franciscanos, estabelece uma mistura de água um pouco à semelhança da integração do sistema energético.

As configurações aqui demonstradas eliminam até certo ponto o preconceito de utilizar a água do PISF para atividades de reduzida capacidade de pagamento como a irrigação por exemplo.

Uma vez que a outorga original foi dimensionada para consumo humano e industrial, situação em que a tarifa é tradicionalmente elevada, o uso dessa água externa é perfeitamente possível quando as necessidades da agropecuária se situam entre o Ramal do PISF e o grande açude da região.

Cabe então ao operador do sistema integrado dessas duas categorias de oferta hídrica (PISF/açude local), estabelecer uma câmara de compensação para uma troca inteligente dessa inusitada mistura "água por água". 

 

O que você achou desse conteúdo?