Logo O POVO+
Sonhos estão proibidos, restam os pesadelos
Opinião

Sonhos estão proibidos, restam os pesadelos

Edição Impressa
Tipo Notícia Por
 Plínio Bortolotti (Foto: Camila de Almeida/O POVO)
Foto: Camila de Almeida/O POVO Plínio Bortolotti

A situação está de tal modo violenta, com incentivos por parte do presidente da República, Jair Bolsonaro, que passaram mais ou menos batidas as agressões verbais e ameaças de morte sofridas pela médica Ludhmila Hajjar. Senado e Câmara Federal nem mesmo emitiram uma reles "nota de repúdio" — que, pelo menos, eram distribuídas nas presidências anteriores. Assim, nem no governo (o que já era esperável) e nem no Congresso houve solidariedade à médica que se dispunha a apresentar um plano para combater a pandemia com base nas evidências científicas.

A intimidação só não chegou à agressão física, segundo disse a médica, porque perseguidores foram contidos por seguranças do hotel onde ela se hospedava em Brasília, onde estava para participar de reuniões do Bolsonaro, que a convidou para sondá-la sobre a aceitação do cargo de ministra da Saúde, recusado por ela. "Eu recebi ataques, tentativa de invasão no hotel que eu estava, ameaças de morte, fui agredida com áudios e vídeos falsos com perfis", disse a médica.

E por que ela sofreu esses ataques, típicos de bolsonarianos fanáticos? Certamente por ser uma profissional que respeita a ciência e a medicina. Em poucas palavras, a médica elaborou um programa de enfrentamento à pandemia, providência que o governo não foi capaz de fazê-lo até hoje, mesmo depois de 280 mil mortes por Covid-19. Nas palavras dela:

"Acreditei que tudo pudesse mudar, sonhei com cada coordenação do Ministério da Saúde sendo lideradas por pessoas técnicas da mais alta qualidade. Sonhei com um comitê de vacinas, sonhei com a criação de um gabinete de crise 24 horas funcionando, para tentar atender aos governadores e prefeitos e ajudar, porque eu acho que é isso que o Ministério da Saúde tem que fazer, na minha visão. Mas acho que foi só um sonho". (GloboNews, 15/3/2021)

Ludhmila Hajjar esqueceu-se apenas de uma coisa: no governo Bolsonaro sonhos são proibidos; restam os pesadelos.

Enquanto isso, foi nomeado para a pasta da Saúde mais um candidato, Marcelo Queiroga, a ser um obediente cumpridor de ordens estapafúrdias. O quarto ministro da Saúde em plena pandemia. n

O que você achou desse conteúdo?