Logo O POVO+
Luciano Teixeira Filho: Estado de Direito em perigo
Opinião

Luciano Teixeira Filho: Estado de Direito em perigo

Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Luciano Teixeira Filho (Foto: ARQUIVO PESSOAL)
Foto: ARQUIVO PESSOAL Luciano Teixeira Filho

Todos ouviram, alguma vez na vida, que vivemos em um Estado de Direito. Esse modelo liberal tem origem na Alemanha, como "Rechtstaat", quase como uma alternativa à concepção de "rule of law", que ouso traduzir por regramento da lei, vigente no direito liberal inglês.

A diferença filosófica fundamental entre as duas concepções é a relação estabelecida entre as leis, os governantes e o povo.

Na concepção que aborda a pura regra do jogo, a lei é um sistema externo, um ditame do agir, embora seja, em tese, a expressão da vontade de todos e o controle jurídico dos governos.

Diferentemente disso, a noção de Estado de Direito inclui, além do controle legal da tirania, uma ideia de consonância entre as leis, os governantes e o povo, uma vez que seu enfoque não é a servidão diante da lei, mas a própria liberdade realizada na lei.

Nessa concepção, se concretiza aquilo que se convencionou chamar de instituições republicanas (democráticas), uma vez que essas instituições plasmam a vontade livre do povo e não um regramento externo a ele.

O governo, aqui, nessa ideia, serve ao povo; as instituições funcionam como um corretivo interno para o controle constitucional (norma abstrata) do próprio Estado.

Ora, essa concepção de Estado abandona o tom de rivalidade entre povo e governo, da filosofia liberal britânica. A partir dessa ideologia, nas instituições o povo é livre e se reconhece como tal.

Dito isso, devo alertar que a identificação da liberdade do povo com essas instituições é frágil. Inúmeras vezes, essas instituições, tal como são pensadas, entraram em colapso, perdendo sua função de controle normativo do Estado.

Por isso, o esfacelamento desse modelo de Estado de Direito não é difícil de se realizar. A propalada crise de representação, há alguns anos alertada, é só o primeiro passo para a destruição das instituições republicanas.

Por fim, sobra um modelo fascistóide, quando essas mesmas instituições abandonam a aparência de serem a substância da liberdade do povo e passam a agir, cruamente, para aniquilar o povo, onde quer que aviste um inimigo idealizado.

Pois bem! A primeira crise se dá, portanto, é entre povo e governantes. Essa crise gera a ascensão de figuras dantescas, como Trump e Bolsonaro. Essas figuras, uma vez no poder, instrumentalizam as instituições.

O resultado: a deslegitimação do sistema de Estado de Direito e o estabelecimento de um Estado Totalitário.

Quanto tempo mais de resiliências essas instituições podem ter? 

 

O que você achou desse conteúdo?