Chama atenção as grotescas manchetes que Bolsonaro e seus ministros derramam sobre nós semanalmente e como a mídia, presa a um mecanismo de caça clicks, reproduz toda sorte de verborragia, preconceito, machismo, misoginia e imbecilização coletiva. Dizer isso, por si só, não é nada novo.
O que de fato nos espanta é a incapacidade das forças progressistas em se livrar dessa armadilha, dando eco a discursos cansativos e clichês da extrema direita.
A questão é, como se livrar do "aprisionamento" dessa metodologia de comunicação, justamente para não se tornar uma presa fácil do diversionismo pretendido, que só retira o foco do que é essencial?
Como se diz, "o real não se vê". O que nos parece cada dia mais evidente é o fato de que a luta do povo brasileiro não é apenas contra Bolsonaro. Ela é mais profunda.
O "fora Bolsonaro", sem outra agenda, parece-nos uma pauta vazia, não põe comida na mesa, não salva vidas, não nos garante saúde, não evita a violência contra a população pobre, negra e da periferia, por exemplo.
O aprofundamento do debate exige o desvencilhamento da pauta que diariamente nos é "vendida" e o questionamento das raízes da exploração dos(as) trabalhadores(as) e do desmantelamento do país.
Ou seja, tornar central temas como a financeirização da economia, a pressão do capital/mercado sobre o orçamento público, a expropriação das riquezas nacionais e o papel da mídia - que é subsidiada por essa estrutura, reproduzindo velhas pautas liberalizantes, contribuindo para o aprofundamento da crise.
Assim, as forças progressistas, incapazes de fazer o real diagnóstico, limitadas à corrida eleitoral, perdem a capacidade de questionar o sistema e mudar o curso da história.