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Hilário Ferreira: Sobre as cotas raciais e os concursos públicos
Opinião

Hilário Ferreira: Sobre as cotas raciais e os concursos públicos

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Hilário Ferreira, pesquisador (Foto: DIVULGAÇÃO)
Foto: DIVULGAÇÃO Hilário Ferreira, pesquisador

Tratar das cotas raciais em concursos públicos no Ceará é falar no presente de reparações históricas. Da violência que retirou do continente africano quase 12 milhões de seres humanos.

Deste total, 4,9 milhões de africanos, foram trazidos para o Brasil, na condição social de escravos, vítimas de um dos maiores crimes da humanidade. Nenhum outro lugar do mundo recebeu tantos escravizados.

Portanto, falar das cotas raciais é tocar nesse problema que muitos procuram evitar discutir: a elaboração de uma política efetiva de reparação para amenizar no presente o histórico de opressão e violência perpetrado pelo Estado e a sociedade brasileira contra as populações negras, quilombolas e indígenas.

Tendo isso em mente, pode-se tratar das violências históricas contra a população negra no Ceará ontem e hoje.

Uma estratégia muito usada no Ceará é o uso do discurso de que não há negros por aqui. Esse é um discurso preconceituoso e racista que não condiz com a realidade.

A conjuntura da segunda metade do séc. XIX foi marcada pelo comércio de escravizados entre províncias.

Quando em 1850 encerrou o comércio atlântico (África/Brasil), se intensificou a venda internamente de seres humanos para o sudeste, região que necessitava de mão de obra para suprir as necessidades de produção do café nas fazendas.

O Ceará foi um dos grandes exportadores de cativos, enquanto aqui vigorou a sociedade escravista. Todos lucraram com esse comércio - menos os negros.

Os impostos arrecadados com esse rendoso comércio tornaram possíveis grandes rendimentos aos cofres da Província cearense.

Em momentos de grandes dificuldades, nas secas, praticamente eram as principais fontes de renda. O total arrecadado em impostos, por escravos exportados, em 1879, foi de 125: 880$000 réis, quantia que representou 7 % do orçamento da província.

Sem falar que com a abolição não foi criado um plano de integração dessa população ao novo regime. E nem aos negros e negras o direito a serem cidadãos. Na verdade, eles foram condenados a viverem por conta própria nos subúrbios e periferia das cidades.

As cotas raciais em concurso público no Ceará é um direito. Uma ação afirmativa que tentará corrigir uma violência histórica, econômica e social intencionalmente produzida.

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