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Plínio Bortolotti: Por que Lula nunca conseguirá agradar as elites
Opinião

Plínio Bortolotti: Por que Lula nunca conseguirá agradar as elites

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 Plínio Bortolotti (Foto: Camila de Almeida/O POVO)
Foto: Camila de Almeida/O POVO Plínio Bortolotti

Desde que saiu da prisão em Curitiba, Lula vem procurando consolidar-se como conciliador, o que, aliás, ele sempre foi. De origem sindical, sabe ser impossível conseguir integralmente uma pauta de reivindicações quando se faz uma greve, por exemplo.

No decorrer de um movimento grevista os líderes ficam premidos entre a base, que se radicaliza durante o processo, e o entendimento de que é preciso ceder nas reivindicações mais elevadas. Assim, tanto têm de negociar com os patrões para conseguir o máximo possível, ao tempo em que precisam convencer os companheiros — que a essa altura estão com a faca nos dentes — a ceder alguns pontos.

Esse modo de agir pode ser transferido para a política. O PT nasceu da radicalização da classe trabalhadora no ABC paulista, na década de 1970, como um partido de esquerda. Na convivência com a política, alguns petistas, entre eles Lula, perceberam que a insistência no programa original faria do PT um partido de "nicho", falando para convertidos. A Carta aos Brasileiros foi, portanto, o compromisso oficial de que a legenda iniciaria a sua caminhada para o centro do espectro político.

Chegando ao poder, principalmente nos governos Lula, o PT conseguiu ampliar a sua base de sustentação, contentando as duas pontas da pirâmide: o seu topo, o "mercado," e os que estavam na base, as famílias pobres, com bons e necessários programas sociais. Lula repetiu, por várias vezes, que empresários e banqueiros nunca lucraram tanto quanto nos governos dele.

Na entrevista concedida a Reinaldo Azevedo, na rádio BandNews FM, Lula continua a fazer acenos ao "mercado", desta vez pondo na roda a possibilidade de transformar algumas estatais, como a Caixa Econômica Federal, em empresas de economia mista, ou seja, uma espécie de "meia privatização", o que enfrentará resistência no seu partido.

Lula em tempo algum foi revolucionário, porém, por mais que ele tente agradar a elite, ela nunca vai se conformar que um retirante nordestino e sem diploma dirija o País. A elite nunca aceitou Lula, apenas o tolerou, botando-o porta afora (ou adentro, na cadeia) assim que teve oportunidade. E nada indica que será diferente agora, por mais que ele acene com a bandeira branca. n

 

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