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Vitor Sandes: A flechada lulista e a mudança no cenário
Opinião

Vitor Sandes: A flechada lulista e a mudança no cenário

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Vítor Sandes, Cientista político, professor adjunto da Universidade Federal do Piauí (UFPI) (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Vítor Sandes, Cientista político, professor adjunto da Universidade Federal do Piauí (UFPI)

Em 8 de março, uma decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Edson Fachin, devolveu os direitos políticos ao ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva. As ações agora deverão ser julgadas pela Justiça Federal do Distrito Federal. Somente esta decisão trouxe um fato novo na política brasileira: Lula pode ser candidato à presidência da República em 2020.

No dia seguinte, 09, foi pautada na segunda turma do STF a suspeição do ex-juiz Sérgio Moro, considerando as diversas evidências de comprometimento da imparcialidade nos processos que envolvem o ex-presidente. Após pedido de vistas do ministro Nunes Marques, a segunda turma voltou a se reunir no dia 23 de março e decidiu pela suspeição do ex-juiz.

A decisão de Fachin, o debate e, sobretudo, o conteúdo dos votos favoráveis à suspeição do ex-juiz possibilitaram a construção de um palanque para o discurso proferido por Lula na quarta-feira, 10 de março.

Lula discursou por mais de uma hora. Foi possível observar uma versão atualizada de um discurso lulista, agora, em um contexto político em que o antagonista é o atual presidente da República, Jair Bolsonaro.

Contrapondo-se ao modelo econômico bolsonarista, que se pauta na agenda liberal de Paulo Guedes, Lula apresentou, em seu discurso, a visão do Estado como motor da redução das desigualdades sociais, principalmente em um momento pandêmico, em que a ausência de ações assertivas do governo pode potencializar, ainda mais, os impactos negativos da Covid-19 no país.

Dentro do receituário lulista, estabelecido, sobretudo, no pós-2002, não houve qualquer aceno a uma ruptura da ordem, mas a valorização da democracia e da liberdade de imprensa. Acenando ao público mais moderado, afirmou: "eu sou radical, porque eu quero ir a fundo nos problemas desse país".

Em suma, realizou um discurso ponderado e conciliador. Recebeu elogios de líderes políticos, o que demonstra a possibilidade de se construir pontes políticas fundamentais em uma possível candidatura.

As pesquisas já trouxeram os resultados deste fato novo na política brasileira: Lula seria o candidato de oposição mais competitivo em uma disputa contra Bolsonaro. O lulismo retorna à cena política e já se tornou o grande calcanhar de Aquiles do atual presidente da República. n

 

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