Faz uma semana que presenciamos a maior chacina policial da história do Rio de Janeiro. Ainda está difícil digerir as cenas que presenciei. São imagens que jamais sairão da minha cabeça pelo resto da vida. Na última quinta, 6 de maio, caminhei pela minha favela e tudo que vi foram poças de sangue e rastros de destruição. As atuações da polícia, da mídia e do governador Cláudio Castro só reforçam um cenário de dor e sofrimento dos moradores.
Até o presente momento, foram contabilizadas 29 mortes - ainda que relatos de moradores apontem um número maior, esse é o dado oficial . O mesmo número de mortos da chacina da Baixada em 2005. Porém, na Baixada Fluminense, os responsáveis integravam um grupo de extermínio, já no Jacarezinho a morte veio fardada em uma operação oficial defendida pelo governador. A Polícia Civil, que supostamente é responsável pela inteligência, executou pessoas rendidas na frente de crianças.
A letalidade policial que já era gigantesca no governo de Wilson Witzel teve um salto quando Cláudio Castro assumiu. A Rede de Observatório da Segurança chegou a registrar um aumento de 435% de mortes em ações policiais entre os meses de setembro e outubro - marcando o início do governo interino de Castro. Novos dados da Rede confirmam 19 chacinas policiais somente no primeiro trimestre deste ano, com 71 mortos. Em 2020, foram 9 chacinas e 31 mortes no mesmo período. Ainda lembro que no final de 2020, o boletim "A Cor da Violência Policial" mostrou que 86% das pessoas mortas pela polícia do Rio são negras.
Os primeiros três meses de 2021 já são os mais letais da série histórica, com uma média de 5 mortes por dia cometidas pelas polícias, de acordo com os dados oficiais. Mesmo com a pandemia e com a determinação do Supremo Tribunal Federal para que as operações fossem suspensas, as polícias do Rio entendem que estão acima do STF e que a situação das favelas é de excepcionalidade, o que justificaria as operações.
A política de segurança falida que preza o combate e a letalidade não cabem mais em nossa sociedade. Pelo menos 29 famílias estão em luto nesse momento, os comércios ainda estão destruídos e a autoestima da favela acabada. Quem conhece o Jacarezinho sabe que na favela a vida pulsa, mas desta vez a polícia levou a alma da minha favela. n